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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Los Cocaleros

BRASÍLIA - O que a Venezuela tem que a Bolívia não tem? Eu não sei, mas os EUA e o Brasil sabem muito bem. Cada um a seu modo.
Na tentativa de golpe da Venezuela, em 11 de abril de 2002, os EUA rapidamente condenaram o presidente Hugo Chávez e apoiaram o golpista Pedro Carmona. Agora, na Bolívia, fizeram o contrário: condenaram o golpe e apoiaram o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada.
Já o Brasil condenou o golpe venezuelano e defendeu Chávez, mas agora age "diplomaticamente" à antiga: distribui nota oficial "política" (nem lá nem cá) e fica sentado esperando uma chance de intermediar um acordo governo-oposição.
A diferença, portanto, parece estar nos presidentes dos dois países e nas suas preferências no continente. Tanto Chávez como Sánchez de Lozada têm a seu favor o fato de terem sido eleitos democraticamente, seguindo os ritos constitucionais. Mas, enquanto Chávez virou as costas para os EUA e adota uma "política bolivariana" de fortalecimento da América Latina, Sánchez de Lozada morou e estudou durante anos nos EUA e, como presidente, jogou a Bolívia definitivamente no colo do Tio Sam.
Entonces, o discurso de "liderança", de "política externa ativa" e de "diplomacia agressiva" está por ora engavetado pelo governo Lula. Não há à vista nenhum "Grupo de Amigos" para salvar Sánchez de Lozada, a exemplo do "Grupo de Amigos da Venezuela", uma iniciativa brasileira. Também não há nenhuma preferência entre Sánchez de Lozada e seus adversários, como houve na eleição argentina a favor de Kirchner.
Lula conversou com o presidente boliviano, e o chanceler Celso Amorim tem falado todos os dias com seu correspondente, Carlos Saavedra. Mas a ação brasileira começou e ficou na manifestação de "solidariedade", enquanto a situação por lá não se aclara. Pelas fumaças que vêm de La Paz, a situação nas ruas está mais tranquila, mas a crise política só tende a piorar. O destino de Sánchez de Lozada é incerto. O Brasil não toma partido. Tudo o que Lula diz é que está à disposição "dos bolivianos".


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