São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Ainda sobre a formação do jornalista
FRED GHEDINI
É verdade que nossa regulamentação profissional poderia ser uma lei estapafúrdia, um "entulho autoritário", como repetem alguns. Nesse caso, caberia a desobediência civil, como uma atitude de resistência, de luta. Acontece que o movimento sindical dos jornalistas sempre lutou por essa regra. A maioria esmagadora dos profissionais a defende. Na sociedade, essa regra tem sido muito bem aceita. E, por fim, a tese tem encontrado respaldo no Judiciário. Portanto não dá para caracterizá-la como uma imposição. Tampouco a defesa da formação específica é uma atitude "corporativista", pois, afinal, os mais interessados em que o jornalista tenha uma formação mínima e, mais que isso, uma boa formação são os cidadãos e as cidadãs deste país, que têm o direito à informação inscrito entre os direitos fundamentais na Constituição (art. 5º, item XIV). Além disso, num país com mais de 200 cursos de jornalismo, o acesso à profissão está razoavelmente democratizado. Mas a maior oposição à obrigatoriedade da formação universitária específica vem das empresas de mídia. Tanto é que o Sindicato das Empresas de Rádio e TV do Estado de São Paulo é um dos que participam da ação civil pública movida contra a regulamentação por um procurador do Ministério Público Federal de São Paulo, em 2001. No nosso entender -e acredito falar aqui em nome de milhares de colegas jornalistas de todo o país e dos dirigentes dos sindicatos e da Federação Nacional dos Jornalistas-, as empresas que prezam o bom jornalismo não têm razão para se opor à lei. Ao contrário, elas deveriam ser as primeiras a fortalecer os cursos, a oferecer condições a seus profissionais para complementarem sua formação. Infelizmente, essa não é a regra. O que se vê hoje, nas empresas de mídia em geral, é o desinvestimento nas redações. Demissões, precarização das relações de trabalho e rebaixamento salarial. Quero aproveitar este espaço tão precioso para me dirigir aos leitores da Folha fazendo dois reptos. Primeiro, àqueles que estão irregularmente atuando como jornalistas, que façam um curso de graduação específico em uma das escolas existentes, públicas ou privadas. Quando se tem humildade, por mais experientes que sejamos, carregamos sempre a certeza de que é possível aprender algo. A humildade é uma característica importante para o jornalista, que trabalha com a imagem pública das pessoas e instituições. E, se você acumulou uma boa experiência ao longo dos anos, certamente ela será de enorme valia para aprimorar o curso que você vier a frequentar. Afinal, é preciso encarar os fatos. E a exigência da formação específica na regulamentação da profissão dos jornalistas é um fato, agora confirmado pela decisão liminar da desembargadora Alda Basto. Um fato pelo qual tanto lutamos e continuaremos a lutar. O segundo repto é às empresas. Que, em vez de procurarem segurar a roda a história, tentando impedir o avanço e o aprimoramento da nossa profissão, invistam mais na profissão e nos profissionais. Tenho certeza de que o respeitável público aplaudirá de pé. Fred Ghedini, 51, é presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas para a Região Sudeste. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Marco Aurélio Mendes de Farias Mello: O mensageiro da paz Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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