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NELSON MOTTA
Letras, números e dígitos
RIO DE JANEIRO - Na era digital,
as transferências de arquivos têm
sido o inferno e o purgatório para a
indústria da música e do cinema,
mas podem ser um paraíso para
os livros.
Meus editores vão ficar de cabelos em pé, mas, por mim, colocava o
texto completo de meu novo livro
na internet, um mês depois do lançamento, sem medo de ser feliz.
Discuti o assunto com uma grande autoridade, se não em letras, mas
em números, o velho amigo Paulo
Coelho. Ele me disse que ia oferecer
os cinco primeiros capítulos de seu
novo livro on-line. E mais, que adoraria se um hacker colocasse o texto
completo na internet: isso só beneficiaria a promoção e as vendas do
seu livro. Não é preciso ser mago ou
profeta para chegar a essa conclusão, basta ser craque em marketing.
Fizemos algumas projeções das
possíveis conseqüências dessa liberação dos livros:
Os avarentos vocacionais ou os
manés viciados em boca-livre, que
poderiam comprar o livro, mas preferem ler de graça, teriam castigo
cruel: ler 400 páginas em uma telinha, ou pior, imprimir o tijolaço pode levar horas e custar até mais, em
tempo e material, do que o livro.
Sem capa, sem fotos, só o texto cru.
Mas, para quem quer muito ler o
livro e não tem R$ 40 para pagar
por ele, como a grande maioria dos
brasileiros, seus problemas acabaram: não dá para levar para a cama
ou para a poltrona, mas ler na tela
do computador é melhor do que
não ler nada.
Nenhum escritor se incomoda se
um grupo se junta para imprimir o
livro e o roda de mão em mão, não
para ganhar dinheiro, mas para dividir o prazer da leitura, criando o
"boca a boca" que vai ajudar o livro
a vender nas livrarias, bancas de
jornais, supermercados ...
Mais do que vender livros, a
maior alegria do escritor é ser lido.
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