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Editoriais
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Volta o criacionismo
NO BRASIL como em outros
países, observa-se uma
crescente pressão de determinadas comunidades religiosas para aumentar a influência sobre o ensino. A face mais visível da investida está na reivindicação de que a mal denominada "teoria" criacionista seja ministrada lado a lado com a teoria
da evolução por seleção natural.
Sob o argumento de que Charles Darwin (1809-1882) não explicou tudo sobre o mundo natural e por isso sua teoria não teria
comprovação definitiva, defende-se o ensino da alternativa:
uma inteligência superior teria
criado o mundo com todas as espécies conhecidas.
Há poucos conjuntos de proposições sobre a natureza que
encontram tanta corroboração
em fatos quanto a teoria da evolução. Sua versão conhecida como Síntese Moderna agregou as
descobertas da genética à matriz
do pensamento darwiniano e se
encontra na raiz do enorme desenvolvimento das ciências biológicas durante o século 20.
Ao criacionismo falta apoio
empírico minimamente comparável. Apesar disso, alguns estabelecimentos brasileiros com
orientação religiosa ensinam a
criação divina até em aulas de
biologia, física e química.
A justificativa está numa noção
de pluralismo que não tem cabimento no ensino de ciências. A
obrigação do professor dessas
disciplinas é apresentar a seus
alunos o conhecimento mais
atual e seguro, com apoio em observações e medições.
É um equívoco atribuir o mesmo status a coisas tão díspares.
De um lado, uma teoria aperfeiçoada e corroborada ao longo de
150 anos de estudos; de outro,
uma narrativa religiosa, apoiada
sobre a autoridade bíblica e recusada pela maioria dos cientistas.
O equívoco maior, contudo, é
não restringir o ensino do criacionismo às aulas de religião,
permitindo que seja ministrado
em ciências. Essa atitude solapa,
na formação das crianças, os fundamentos do método científico.
Apontar a incongruência entre
criacionismo e ciência, no entanto, é o máximo que o poder público tem a fazer nesses casos. Se a
opção dos pais, consciente, recair sobre uma escola religiosa
privada que ministre o criacionismo, inclusive em ciências, essa é uma esfera de decisão imune
à intervenção do Estado.
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