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MARCOS NOBRE
Política da chantagem
ESTÁ MAIS QUE claro que o
PMDB é hoje a força mais nefasta da política brasileira. Já
nem se preocupa em disfarçar: topa qualquer parada, qualquer que
seja o governo.
Acontece que o PMDB é sintoma, e não causa. Por que a sociedade brasileira resolveu fazer de um
partido como esse o mais forte do
país não é coisa simples de explicar. Pode ser que olhar a maneira
como o sistema político se organizou nos últimos anos ajude a entender pelo menos parte dessa
história.
Muitas vezes pode parecer difícil
ver as diferenças entre os dois polos da política brasileira, liderados
por PT e PSDB -ainda que existam
e sejam relevantes. Mas mais difícil
ainda é encontrar diferenças no interior de cada um dos polos.
Veja-se o caso de PT e PSB. Foram bem-sucedidos em expulsar os
partidos da ditadura militar (PDS,
atual PP, e PFL, atual DEM) do
Nordeste. Mas seus perfis político-eleitorais na região são hoje tão semelhantes que fica difícil saber como vão se comportar nas próximas
eleições.
Tendo perdido seus redutos tradicionais, e com votação declinante a cada eleição, o DEM tomou um
banho de loja e passou a se apresentar como partido da classe média, defensor de cortes de impostos
e do consumidor. Sua estratégia ganhou fôlego com a vitória de Kassab em São Paulo. Resultado: começou a disputar a sério um eleitorado antes cativo do PSDB.
No caso da aliança demo-tucana,
o futuro imediato parece menos
conflituoso por causa do salto alto
da candidatura Serra. Não se pode
dizer o mesmo do polo petista, em
que o PSB hoje está muito longe de
ser um partido irrelevante e conta
com a candidatura competitiva de
Ciro Gomes.
Seja como for, o fato é que, dentro dos dois polos da política, os
partidos se tornam cada vez mais
parecidos e, ao mesmo tempo, passam à condição de principais rivais,
disputando faixas semelhantes do
eleitorado. Não é por acaso que a
principal tarefa das direções de PT
e PSDB seja a de impedir a implosão das alianças nacionais por disputas regionais dentro dos blocos
que lideram. Também não é à toa
que surgem o tempo todo rumores
sobre fusões partidárias que nunca
se concretizam.
O PMDB se alimenta desse paradoxo. É comum que se apresente
como alternativa a uma aliança
entre partidos de um mesmo polo.
Estimula e tira proveito das divisões internas entre partidos
aliados.
O PMDB tem tamanho e força
suficientes para desestabilizar os
dois polos da política brasileira.
Vive da permanente chantagem de
realizar a ameaça de implodir o
precário equilíbrio do sistema
político.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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