São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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MARCOS NOBRE

Política da chantagem

ESTÁ MAIS QUE claro que o PMDB é hoje a força mais nefasta da política brasileira. Já nem se preocupa em disfarçar: topa qualquer parada, qualquer que seja o governo.
Acontece que o PMDB é sintoma, e não causa. Por que a sociedade brasileira resolveu fazer de um partido como esse o mais forte do país não é coisa simples de explicar. Pode ser que olhar a maneira como o sistema político se organizou nos últimos anos ajude a entender pelo menos parte dessa história.
Muitas vezes pode parecer difícil ver as diferenças entre os dois polos da política brasileira, liderados por PT e PSDB -ainda que existam e sejam relevantes. Mas mais difícil ainda é encontrar diferenças no interior de cada um dos polos.
Veja-se o caso de PT e PSB. Foram bem-sucedidos em expulsar os partidos da ditadura militar (PDS, atual PP, e PFL, atual DEM) do Nordeste. Mas seus perfis político-eleitorais na região são hoje tão semelhantes que fica difícil saber como vão se comportar nas próximas eleições.
Tendo perdido seus redutos tradicionais, e com votação declinante a cada eleição, o DEM tomou um banho de loja e passou a se apresentar como partido da classe média, defensor de cortes de impostos e do consumidor. Sua estratégia ganhou fôlego com a vitória de Kassab em São Paulo. Resultado: começou a disputar a sério um eleitorado antes cativo do PSDB.
No caso da aliança demo-tucana, o futuro imediato parece menos conflituoso por causa do salto alto da candidatura Serra. Não se pode dizer o mesmo do polo petista, em que o PSB hoje está muito longe de ser um partido irrelevante e conta com a candidatura competitiva de Ciro Gomes.
Seja como for, o fato é que, dentro dos dois polos da política, os partidos se tornam cada vez mais parecidos e, ao mesmo tempo, passam à condição de principais rivais, disputando faixas semelhantes do eleitorado. Não é por acaso que a principal tarefa das direções de PT e PSDB seja a de impedir a implosão das alianças nacionais por disputas regionais dentro dos blocos que lideram. Também não é à toa que surgem o tempo todo rumores sobre fusões partidárias que nunca se concretizam.
O PMDB se alimenta desse paradoxo. É comum que se apresente como alternativa a uma aliança entre partidos de um mesmo polo. Estimula e tira proveito das divisões internas entre partidos aliados.
O PMDB tem tamanho e força suficientes para desestabilizar os dois polos da política brasileira. Vive da permanente chantagem de realizar a ameaça de implodir o precário equilíbrio do sistema político.

nobre.a2@uol.com.br

MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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