São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A importância da Virada Social

ROGÉRIO AMATO


A Virada Social surge como modelo inovador de gestão, sem o mérito individual da realização, já que o êxito depende de todos


DAS 5.564 cidades brasileiras, apenas 547 possuem população acima de 50 mil habitantes. Para ter uma ideia da dimensão das responsabilidades que envolvem a gestão de uma metrópole como São Paulo, basta lembrar que apenas em Paraisópolis, comunidade vizinha ao Morumbi (zona oeste), vivem cerca de 80 mil pessoas.
Não existem soluções isoladas que movimentem essa gigantesca estrutura para o desenvolvimento socioeconômico. Intervenções no setor da educação, por exemplo, envolvem ações em outras áreas, como em transportes, habitação, cultura, lazer e segurança. É com essa convicção que o governo do Estado e a Prefeitura do Município de São Paulo decidiram somar esforços para resolver os problemas da cidade e dos paulistanos.
A complexidade dos problemas estruturais dos grandes espaços urbanos ultrapassa os limites das habili-dades individuais do gestor público. Desenvolvimento e justiça social exigem competência administrativa, cooperação entre os Poderes, diálogo com a sociedade e coordenação na aplicação dos investimentos.
O programa Virada Social concretiza o esforço e a união entre os diversos segmentos do poder público e as entidades civis, na direção do atendimento às necessidades do cidadão. Trata-se de um modelo compartilhado de gestão, envolvendo o governo do Estado, a prefeitura, suas respectivas secretarias, associações de mo- radores, organizações não-governamentais e empresas públicas.
Crianças que vivem em situação de risco, por exemplo, são presas fáceis para o crime organizado. O governo do Estado adota uma política de segurança que vai além da repressão. Colocar criminosos na cadeia é apenas parte da solução. Desafio maior é abrir a porta da igualdade e da cidadania a milhares de meninos e meninas que farão, no futuro, a opção por uma vida honesta.
É exatamente essa a proposta do programa Virada Social, coordenado pela Seads (Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social). Integrando secretarias, órgãos públicos estaduais e municipais e sociedade civil, a Virada Social parte do princípio de que a inclusão social é importante instrumento de segurança pública.
A ocupação policial que caracteriza a primeira fase da Virada Social é o anúncio de que o poder público se fará presente definitivamente. As tropas especiais da Polícia Militar permanecem na área por cerca de 90 dias, durante a chamada Operação Saturação, seguida de ações concretas de curto, médio e longo prazos de revitalização urbana, saúde, educação, cidadania, segurança, assistência social e cultural, entre outras.
O sucesso da Virada Social depende da participação e do envolvimento da comunidade local. Os subprefeitos são fundamentais, já que estão na linha de frente e podem ajudar na definição das prioridades. Em junho do ano passado, a região de São Mateus (zona leste) recebeu o programa. Nos primeiros 48 dias, a polícia vistoriou 14.120 veículos e registrou 112 ocorrências que resultaram em 86 prisões em flagrante e 21 processos de investigação. Paralelamente, a Seads articulou órgãos estaduais e municipais de diversas áreas e definiu com os demais parceiros cerca de cem ações.
A primeira intervenção da Virada Social aconteceu em 2007 no Jardim Elisa Maria, na Brasilândia (zona norte), onde mais de 60 ações foram executadas, como a inauguração de uma unidade de AMA (Atendimento Médico Ambulatorial), a construção de escola, a instalação de base da polícia e o embelezamento urbano.
O resultado foi a redução nos índices de criminalidade. Em 2009, quatro novas áreas serão beneficiadas, a começar com a comunidade de Paraisópolis, onde o programa já foi iniciado com o Poupatempo Móvel. O paulistano sente muito orgulho de viver nesta cidade. E o futuro de São Paulo está intrinsecamente ligado ao bem-estar do seu povo. Essa relação de dependência recíproca se consolida por meio de políticas públicas de inclusão. A Virada Social surge, nesse contexto, como instrumento para encontrar soluções de curto prazo, mas com reflexos que serão percebidos por várias décadas.
O governador Serra e o prefeito Kassab propõem à sociedade que é preciso ir além do óbvio, como escreveu recentemente um importante jornalista. A Virada Social surge como modelo inovador de gestão, sem o mérito individual da realização, já que o êxito depende de todos.

ROGÉRIO AMATO, 60, administrador de empresas formado pela Fundação Getulio Vargas, é secretário Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo e vice-presidente do Centro de Indústrias e da Associação Comercial de São Paulo.


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