São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2001 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A Oziel e aos meninos do Brasil
LUIZ EDUARDO GREENHALGH
Um relatório recente da ONU apontou o Brasil como um dos países em que a tortura é praticada de maneira sistemática e disseminada. Diz o relatório: "A existência de uma lei que tipifica o crime de tortura é um aspecto positivo. Mas essa lei não é adotada pela maioria dos juízes e promotores". Resultados do Censo 2000 mostram que o Brasil, no quesito distribuição de renda, apresenta dados piores do que os de Botsuana. Oziel, torturado antes do tiro fatal, e seus companheiros lutavam contra a injustiça social em todos os níveis, simbolicamente fixada na luta pela terra. De 1980 aos primeiros meses de 2001, 714 trabalhadores rurais foram mortos no Pará, 534 deles nas regiões sul e sudeste do Estado. Em meio a esse genocídio, praticado por centenas de pistoleiros, intermediários, mandantes e policiais, apenas quatro condenações -só um está preso, apesar de ter conseguido uma transferência para Goiás, onde goza de mais comodidade. Cinco anos se passaram desde o dia 17 de abril de 1996, no qual 19 trabalhadores morreram em conflito com a Polícia Militar. No único julgamento do caso, em agosto de 1999, presidido pelo juiz Ronaldo do Vale, três oficiais militares foram absolvidos, num cenário de erros técnicos, cerceamento da acusação e manobras oficiais para favorecer a defesa dos envolvidos. De amplo conhecimento da sociedade, esse cenário provocou a anulação, pelo Tribunal de Justiça do Pará, desse único julgamento. Nesses dois anos, mais de uma dezena de juízes não quis assumir o processo criminal, por envolvimento em conflitos possessórios ou, como disseram alguns, "por profundo respeito à Polícia Militar". A história de nosso país está permeada de julgamentos espúrios e pela raridade de justiça na defesa dos menos favorecidos financeiramente. A impunidade dos responsáveis pelo massacre de Eldorado, mais do que em qualquer outra chacina, ultrapassa os limites possíveis da imaginação, pois o conflito foi filmado e suas imagens exibidas. É imprescindível que a sociedade exija e cobre atitudes dignas do Judiciário. Como coloca em pema um companheiro de Oziel no MST, Charles Trucate, hoje com 23 anos (Oziel teria 25): "O poder não pode encerrar/Aqueles meninos que marcham/ Suas infâncias!" Luiz Eduardo Greenhalgh, 53, é deputado federal (PT-SP) e advogado do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: João Sette Whitaker Ferreira e Mariana Fix: A urbanização e o falso milagre do Cepac Índice |
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