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ELIANE CANTANHÊDE
Menos trabalho, mais grana
BRASÍLIA - É por essas e outras,
muitas outras, que o Congresso está
cada vez mais desacreditado e a
crença na política vai para o ralo. A
Câmara tinha de aumentar a verba
de gabinete dos 513 deputados, de
R$ 50,8 para R$ 60 mil, logo agora?
Além de ser eticamente questionável, a decisão é de uma burrice
política atroz. "Inaceitável", como
protestou o PSOL, único partido
contrário, diga-se de passagem.
Não são poucos os motivos.
A opinião pública não está de
bem com os políticos e vai usar o
aumento como munição contra
eles. A pergunta, em qualquer boteco da esquina, vai ser: "O que esses
caras estão fazendo para decidir aumento assim, do nada?"
O Senado brinca da fazer CPIs
que que tendem a dar em nada. A
Câmara sumiu do noticiário, simplesmente porque não está fazendo
nada, espremida entre MPs, falta de
vontade e eleições logo ali adiante.
Ou seja: o rendimento cai, e a remuneração aumenta. Faz sentido?
Não para nós, comuns mortais, mas
sim para eles, os integrantes da Mesa da Câmara, explicando que a verba é para pagar os funcionários não-concursados, entre 5 e 25 por gabinete. E, como o valor é acima da inflação registrada desde o último aumento, trata-se não só de reajuste,
mas de aumento real.
Isso já seria esquisito, mas tudo
fica pior quando se sabe que em torno de 150 deputados estão em campanha para a eleição de outubro e
que os demais também vão trabalhar arduamente nos seus municípios -e desviar funcionários do gabinete de Brasília para os comitês
nas bases. Ou seja: o financiamento
público de campanha começou, e a
gente nem tinha se dado conta! Sem
falar na prática de o deputado registrar o salário do funcionário num
valor "x", pagar "y" e embolsar o
resto na cara limpa.
E ainda somos obrigados a ouvir
o Lula se gabar de "um outro jeito
de fazer política no país". Pode até
ser outro "jeito", mas não significa
que seja melhor. Nem animador.
elianec@uol.com.br
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