São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Menos trabalho, mais grana

BRASÍLIA - É por essas e outras, muitas outras, que o Congresso está cada vez mais desacreditado e a crença na política vai para o ralo. A Câmara tinha de aumentar a verba de gabinete dos 513 deputados, de R$ 50,8 para R$ 60 mil, logo agora?
Além de ser eticamente questionável, a decisão é de uma burrice política atroz. "Inaceitável", como protestou o PSOL, único partido contrário, diga-se de passagem.
Não são poucos os motivos.
A opinião pública não está de bem com os políticos e vai usar o aumento como munição contra eles. A pergunta, em qualquer boteco da esquina, vai ser: "O que esses caras estão fazendo para decidir aumento assim, do nada?"
O Senado brinca da fazer CPIs que que tendem a dar em nada. A Câmara sumiu do noticiário, simplesmente porque não está fazendo nada, espremida entre MPs, falta de vontade e eleições logo ali adiante.
Ou seja: o rendimento cai, e a remuneração aumenta. Faz sentido?
Não para nós, comuns mortais, mas sim para eles, os integrantes da Mesa da Câmara, explicando que a verba é para pagar os funcionários não-concursados, entre 5 e 25 por gabinete. E, como o valor é acima da inflação registrada desde o último aumento, trata-se não só de reajuste, mas de aumento real.
Isso já seria esquisito, mas tudo fica pior quando se sabe que em torno de 150 deputados estão em campanha para a eleição de outubro e que os demais também vão trabalhar arduamente nos seus municípios -e desviar funcionários do gabinete de Brasília para os comitês nas bases. Ou seja: o financiamento público de campanha começou, e a gente nem tinha se dado conta! Sem falar na prática de o deputado registrar o salário do funcionário num valor "x", pagar "y" e embolsar o resto na cara limpa.
E ainda somos obrigados a ouvir o Lula se gabar de "um outro jeito de fazer política no país". Pode até ser outro "jeito", mas não significa que seja melhor. Nem animador.


elianec@uol.com.br

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