São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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KENNETH MAXWELL

Um bom domingo

SÃO PAULO pode ser divertida.
De fato, eu recomendaria abrir mão da praia por pelo menos um final de semana e dedicar o domingo a explorar o centro vazio da cidade.
A última vez que o fiz foi em novembro. Ver os edifícios municipais de perto foi maravilhoso. Contemplar as obras de Aleijadinho em exposição no esmerado e antigo edifício do Banco do Brasil. O passeio pela mansão da marquesa de Santos. O almoço no Pátio do Colégio. Até mesmo a algo bizarra descoberta de que um osso da coxa do padre José de Anchieta está exposto no oratório que fica ao lado da entrada principal da igreja. E tudo isso sem virtualmente ninguém por perto, o que propiciava tempo suficiente para desfrutar de todas as atrações.
O domingo passado começou com uma longa caminhada pelo parque Ibirapuera, lotado de paulistanos felizes e cachorros e skatistas, ciclistas e corredores. O Exército também estava presente.
Soldados demonstravam diversos aparatos de carga que usam cordas e roldanas, imensamente populares entre as crianças. Depois, o Museu Afro-Brasileiro: que coleção extraordinária, um acúmulo quase exagerado de maravilhas.
Houve recentemente uma exposição enorme em Washington, e enormemente dispendiosa, sobre os encontros globais dos portugueses. As galerias dedicadas à Índia, à China e ao Japão eram excelentes.
Mas a seção sobre o Brasil decepcionava e se concentrava nas conhecidas pinturas dos holandeses Post e Eckhout sobre o Pernambuco do século 17 e no barroco colonial brasileiro, um período que sofre de exposição excessiva. O conteúdo de qualquer uma das seções do Museu Afro-Brasileiro do Ibirapuera teria sido infinitamente mais interessante.
Na final da tarde, um soberbo concerto na Sala São Paulo, instalada na renovada estação ferroviária Júlio Prestes: Bach, Bartók e Bottesini, e uma platéia de centenas de entusiastas da música clássica apreciando o espetáculo. Depois, da sala de concertos eruditos para as ruas: largo do Arouche e avenida Vieira de Carvalho, para um delicioso galeto desossado e chope.
Do lado de fora do restaurante, uma parada informal e bem-humorada de gays musculosos (e nem tão musculosos), travestis e lésbicas, de todas as classes, etnias e idades, caminhando de lá para cá, de modo semelhante ao que costumava caracterizar o "footing" ao longo da avenida Nossa Senhora de Copacabana no Rio de Janeiro dos anos 60, um hábito que desapareceu há muito.
Em resumo, um domingo delicioso em São Paulo.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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