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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Água: para ser levado a sério
AS MUDANÇAS climáticas tomaram conta do noticiário
dos últimos meses. Relatórios da ONU e de comissões de recursos naturais trouxeram dados
preocupantes. O que se considerava uma hipótese, hoje é séria ameaça ao planeta se o comportamento
humano continuar o mesmo.
Vejamos o caso da água. O Brasil
é um país privilegiado. Não só possuímos uma grande quantidade de
bacias hidrográficas como dispomos de um regime de chuvas que
tem favorecido o trabalho e a vida
nesta parte do planeta. Os últimos
24 meses, por exemplo, apresentaram resultados bastante satisfatórios na maioria das regiões do país.
Enquanto isso, os Estados Unidos estão vivendo um verdadeiro
inferno astral. Em reportagem publicada no dia 8 passado, o jornal
"USA Today" anuncia uma "seca
para as calendas".
Um país que depende tanto da
sua agricultura -e que usa a água
de forma abundante e até excessiva- vê um terço de seu território
atacado por forte seca.
A prolongada escassez de chuvas
ameaça a nação. Os Estados da Califórnia e de Nevada tiveram o mais
seco mês de maio desde 1924, e junho promete ser igual, o que está
obrigando os pecuaristas a vender
o gado. A Flórida, um quase paraíso
das águas, tem vários lagos completamente secos. No Alabama, a cultura do milho está severamente
prejudicada. O prefeito de Los Angeles já deu o alerta: pediu para a
população economizar, no mínimo, 10% de água todos os dias.
Está aí um exemplo para colocarmos as nossas barbas de molho.
Até agora, foi tudo bem. As chuvas
molharam bem as plantas e ajudaram a encher vários reservatórios
das usinas de energia elétrica. Alguns tiveram que abrir as comportas para equilibrar o seu nível.
Mas não se pode contar com isso
eternamente. Os que ainda pensam que a água é um recurso ilimitado e eterno estão enganados. Veja o que acontece nas zonas urbanas. Nossos mananciais já deram
alguns gritos de agonia. Estivemos
à beira do racionamento por inúmeras vezes. E, enquanto isso, vejo
pessoas lavando calçadas com esguicho, esbanjando água potável,
que custa muito para ser tratada e
está em vias de faltar. Não há atividade humana que, direta ou indiretamente, não dependa da água. E a
mais essencial de todas, a produção
de alimentos, é a que mais consome o precioso líquido.
Se os dados estão reafirmando as
mudanças climáticas, ainda que
por trás deles haja alguns elementos de incerteza, é hora de levarmos muito a sério o uso da água. A
esta altura já devíamos ter implantados nos programas escolares disciplinas específicas para informar
as crianças e formar novos hábitos.
É com seu comportamento que vamos ter de contar no futuro.
antonio.ermirio antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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