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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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OTAVIO FRIAS FILHO

Reeleger a prefeita

O cenário da eleição para a Prefeitura de São Paulo, no ano que vem, já começa a ser preparado. Essa antecedência não se deve apenas ao peso específico da maior cidade do país e à expectativa de uma eleição muito disputada entre a prefeita Marta Suplicy e quem vier a se destacar entre seus hoje numerosos desafiantes. Há mais em jogo.
Uma eventual derrota da prefeita seria um duro revés para o governo Lula, a quem ela está ligada por estreitos laços políticos. Dependendo do nível em que se encontrar a popularidade do presidente na época da campanha, a eleição poderá ter cunho plebiscitário, como já ocorreu várias vezes, dando à torcida a chance de mostrar um cartão amarelo ao governo.
Por essa razão, o governo tem transferido recursos vultosos, via BNDES e Caixa Econômica Federal, para a prefeitura. É de esperar que o apoio chegue a todos os limites que for possível estender sem causar grande escândalo e que reeleger a prefeita seja prioridade crescente da administração Lula. No plano doméstico, a prefeita já mudou o rumo de sua gestão.
Depois de um período inicial de austeridade nos gastos e de criação de novas taxas, voltado a corrigir o descalabro do período Maluf/Pitta, a prefeitura começa a gastar, prenunciando mais um momento de realizações fulminantes, na proximidade das eleições, a fim de recuperar a popularidade exaurida pelas concessões excessivas e pelos problemas sem solução.
Apesar da evolução que tem havido na cultura política do país e na legislação que disciplina os governantes, esse padrão ciclotímico -depressivo nos primeiros três quartos do mandato, maníaco no final- vai-se tornando hábito em São Paulo. Com 45% de reprovação, segundo pesquisa Datafolha de abril, a prefeita deverá chegar ao pleito em condições melhores que as atuais.
Tudo indica que será uma candidata competitiva, talvez até favorita, mas não imbatível. Daí toda essa movimentação nos bastidores da política local, com pré-candidaturas tropeçando umas nas outras. Além da máquina petista, existem duas forças organizadas e relevantes: os tucanos do governador Alckmin e o malufismo, combalido, mas ainda renitente.
Difícil calcular se nas apostas do ex-prefeito Maluf valeria a pena enfrentar mais uma eleição em que as chances de vitória parecem mínimas. Para Marta, paradoxalmente, seria bom caso Maluf fosse candidato. Estaria configurada a dicotomia progresso x atraso, que a favorece e que lhe permitiria reeditar a frente contra o populismo de direita.
Pelo lado tucano, a tática é estimular candidaturas que dificultem as alianças da prefeita e assegurar a simpatia do eleitorado malufista, meio órfão, via endurecimento da política de segurança. Mais para a frente, Alckmin terá de escolher entre uma candidatura que confronte a prefeita e uma que se assemelhe a seu perfil "moderno". Muita água ainda vai correr.


Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.


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