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OTAVIO FRIAS FILHO
Reeleger a prefeita
O cenário da eleição para a Prefeitura de São Paulo, no ano que
vem, já começa a ser preparado. Essa
antecedência não se deve apenas ao
peso específico da maior cidade do
país e à expectativa de uma eleição
muito disputada entre a prefeita Marta Suplicy e quem vier a se destacar entre seus hoje numerosos desafiantes.
Há mais em jogo.
Uma eventual derrota da prefeita seria um duro revés para o governo Lula, a quem ela está ligada por estreitos
laços políticos. Dependendo do nível
em que se encontrar a popularidade
do presidente na época da campanha,
a eleição poderá ter cunho plebiscitário, como já ocorreu várias vezes, dando à torcida a chance de mostrar um
cartão amarelo ao governo.
Por essa razão, o governo tem transferido recursos vultosos, via BNDES e
Caixa Econômica Federal, para a prefeitura. É de esperar que o apoio chegue a todos os limites que for possível
estender sem causar grande escândalo
e que reeleger a prefeita seja prioridade crescente da administração Lula.
No plano doméstico, a prefeita já mudou o rumo de sua gestão.
Depois de um período inicial de austeridade nos gastos e de criação de novas taxas, voltado a corrigir o descalabro do período Maluf/Pitta, a prefeitura começa a gastar, prenunciando
mais um momento de realizações fulminantes, na proximidade das eleições, a fim de recuperar a popularidade exaurida pelas concessões excessivas e pelos problemas sem solução.
Apesar da evolução que tem havido
na cultura política do país e na legislação que disciplina os governantes, esse padrão ciclotímico -depressivo
nos primeiros três quartos do mandato, maníaco no final- vai-se tornando hábito em São Paulo. Com 45% de
reprovação, segundo pesquisa Datafolha de abril, a prefeita deverá chegar
ao pleito em condições melhores que
as atuais.
Tudo indica que será uma candidata
competitiva, talvez até favorita, mas
não imbatível. Daí toda essa movimentação nos bastidores da política
local, com pré-candidaturas tropeçando umas nas outras. Além da máquina petista, existem duas forças organizadas e relevantes: os tucanos do
governador Alckmin e o malufismo,
combalido, mas ainda renitente.
Difícil calcular se nas apostas do ex-prefeito Maluf valeria a pena enfrentar
mais uma eleição em que as chances
de vitória parecem mínimas. Para
Marta, paradoxalmente, seria bom caso Maluf fosse candidato. Estaria configurada a dicotomia progresso x atraso, que a favorece e que lhe permitiria
reeditar a frente contra o populismo
de direita.
Pelo lado tucano, a tática é estimular
candidaturas que dificultem as alianças da prefeita e assegurar a simpatia
do eleitorado malufista, meio órfão,
via endurecimento da política de segurança. Mais para a frente, Alckmin
terá de escolher entre uma candidatura que confronte a prefeita e uma que
se assemelhe a seu perfil "moderno".
Muita água ainda vai correr.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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