São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

Próximo Texto | Índice

Menos poluição

Emissão de gases tóxicos por veículos caiu por conta de tecnologia e planejamento; frota crescente preocupa

AS PRESSÕES sobre o ambiente global são uma fonte inesgotável de prognósticos alarmantes para a humanidade. Subestimá-las e fazer apologia da inação seria um erro. Incorreto também seria deixar de reconhecer que há margem considerável para atuar contra as tendências preocupantes -e assim produzir algumas boas notícias, como a redução das emissões de poluentes por veículos, no Brasil, nas duas últimas décadas.
A boa nova está no balanço de 20 anos do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). As normas introduzidas em 1986 fixavam metas para reduzir paulatinamente as emissões veiculares. Levaram a indústria automobilística a incorporar tecnologias decisivas para aumentar a eficiência dos motores (como a injeção eletrônica em substituição aos carburadores) e para reter substâncias danosas geradas na combustão (conversores catalíticos).
Os resultados anunciados na semana passada pelo Ministério do Meio Ambiente são auspiciosos: redução de mais de 90% das emissões de gases tóxicos por veículos leves. Com o Proconve, só na Região Metropolitana de São Paulo a atmosfera recebeu 60% menos monóxido de carbono do que receberia se o programa não existisse. Estima-se que foram evitadas as mortes de 14.495 pessoas -economia equivalente a R$ 1,3 bilhão em gastos com assistência médica.
Isso não significa que o problema da poluição atmosférica nos grandes centros urbanos esteja resolvido -longe disso. As reduções obtidas com motocicletas e veículos pesados foram muito inferiores. Além disso, ainda circulam vários carros com mais de dez anos de fabricação (cerca de 40% do total), muitos dos quais não se beneficiaram dos avanços tecnológicos. O que mais preocupa, no entanto, é o crescimento contínuo da frota de veículos, que vai solapando o esforço. No mês de janeiro já rodavam no país 42,3 milhões de veículos (contra 18,3 milhões em 1990).
Não se deve esquecer que oito pessoas ainda morrem em São Paulo, por dia, em conseqüência da poluição, segundo estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Já foram 12 óbitos por dia, e nada impede que tal cifra macabra retorne.
São conhecidos os passos a dar para que a boa notícia de agora não se esfume no futuro próximo. Antes de mais nada, retomar a tramitação no Congresso do projeto de lei 5.979/2001, para implantar a Inspeção e Manutenção Preventiva (I/M) em todo o país. Um esforço tecnológico dirigido, que siga o exemplo e vá além do que já se esboça com os biocombustíveis, poderá gerar reduções mais expressivas de emissões por veículos pesados.
Por fim, não se pode perder de vista a necessidade de desestimular o uso do transporte individual nos grandes centros metropolitanos. Isso pode ser obtido por meio de investimento decisivo na ampliação e melhora dos transportes públicos de massa. Ou então, no limite, por meio de restrições diretas à circulação de automóveis (rodízio), como já acontece em São Paulo, e indiretas (pedágio urbano, taxação extra de combustíveis etc.).


Próximo Texto: Editoriais: Disputa no Orçamento

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.