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Menos poluição
Emissão de gases tóxicos
por veículos caiu por conta
de tecnologia e
planejamento; frota
crescente preocupa
AS PRESSÕES sobre o ambiente global são uma
fonte inesgotável de
prognósticos alarmantes para a humanidade. Subestimá-las e fazer apologia da inação
seria um erro. Incorreto também
seria deixar de reconhecer que há
margem considerável para atuar
contra as tendências preocupantes -e assim produzir algumas
boas notícias, como a redução
das emissões de poluentes por
veículos, no Brasil, nas duas últimas décadas.
A boa nova está no balanço de
20 anos do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores (Proconve), do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). As normas introduzidas em 1986 fixavam metas para reduzir paulatinamente
as emissões veiculares. Levaram
a indústria automobilística a incorporar tecnologias decisivas
para aumentar a eficiência dos
motores (como a injeção eletrônica em substituição aos carburadores) e para reter substâncias
danosas geradas na combustão
(conversores catalíticos).
Os resultados anunciados na
semana passada pelo Ministério
do Meio Ambiente são auspiciosos: redução de mais de 90% das
emissões de gases tóxicos por
veículos leves. Com o Proconve,
só na Região Metropolitana de
São Paulo a atmosfera recebeu
60% menos monóxido de carbono do que receberia se o programa não existisse. Estima-se que
foram evitadas as mortes de
14.495 pessoas -economia equivalente a R$ 1,3 bilhão em gastos
com assistência médica.
Isso não significa que o problema da poluição atmosférica nos
grandes centros urbanos esteja
resolvido -longe disso. As reduções obtidas com motocicletas e
veículos pesados foram muito inferiores. Além disso, ainda circulam vários carros com mais de
dez anos de fabricação (cerca de
40% do total), muitos dos quais
não se beneficiaram dos avanços
tecnológicos. O que mais preocupa, no entanto, é o crescimento
contínuo da frota de veículos,
que vai solapando o esforço. No
mês de janeiro já rodavam no
país 42,3 milhões de veículos
(contra 18,3 milhões em 1990).
Não se deve esquecer que oito
pessoas ainda morrem em São
Paulo, por dia, em conseqüência
da poluição, segundo estudos do
Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Já foram
12 óbitos por dia, e nada impede
que tal cifra macabra retorne.
São conhecidos os passos a dar
para que a boa notícia de agora
não se esfume no futuro próximo. Antes de mais nada, retomar
a tramitação no Congresso do
projeto de lei 5.979/2001, para
implantar a Inspeção e Manutenção Preventiva (I/M) em todo
o país. Um esforço tecnológico
dirigido, que siga o exemplo e vá
além do que já se esboça com os
biocombustíveis, poderá gerar
reduções mais expressivas de
emissões por veículos pesados.
Por fim, não se pode perder de
vista a necessidade de desestimular o uso do transporte individual nos grandes centros metropolitanos. Isso pode ser obtido
por meio de investimento decisivo na ampliação e melhora dos
transportes públicos de massa.
Ou então, no limite, por meio de
restrições diretas à circulação de
automóveis (rodízio), como já
acontece em São Paulo, e indiretas (pedágio urbano, taxação extra de combustíveis etc.).
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