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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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SETE MESES

Em pronunciamento ao país, na última quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou sua avaliação dos sete meses do novo governo. A seu favor, evocou principalmente a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência, a queda do risco-país e da inflação e o início da redução dos juros, afiançando que o "pior já passou".
Não há dúvida de que a aprovação das mudanças na Previdência, após duras negociações, com concessões nem sempre positivas, foi um tento do Planalto. A reforma, encalacrada havia anos, era uma das oferendas prometidas aos mercados como prova da conversão do PT a valores confiáveis. O texto, embora possa pedir ajustes futuros, sinaliza maior solvência do Estado e confere mais racionalidade ao sistema. Diferentemente de outros países emergentes, não se sancionou a privatização "selvagem" da Previdência -nem se adiou novamente o problema.
Quanto às mencionadas conquistas na economia, o governo, como se sabe, fez uma opção inicial que parece ir orientando de maneira irreversível sua atuação nessa área. Compelido a enfrentar um forte processo inflacionário e de corrosão da confiança no país, o Planalto decidiu-se pela estratégia do "choque de credibilidade", adotando uma por uma, com revigorado ímpeto conservador, as receitas prescritas pelo cânone econômico tradicional.
Com a diferença de que a economia pôde aproveitar-se da desvalorização cambial para melhorar significativamente a geração de saldos comerciais, as eventuais virtudes e os evidentes riscos do modelo vigente permanecem essencialmente os mesmos dos anos anteriores.
Em meio à recessão industrial e elevado desemprego, Lula prometeu na TV o que parece óbvio: bastante ruins, as coisas irão melhorar. A questão é saber em que proporção, a que ritmo e com que qualidade a melhora poderá ocorrer. As restrições ao investimento são inquietantes, e a vulnerabilidade externa da economia persiste num cenário de baixas reservas do Banco Central, de reduzido fluxo de capital externo, de potencial volatilidade do câmbio e de incertezas internacionais -situação que muito provavelmente levará o petismo a romper mais um de seus tabus e renovar o acordo com o FMI.
Certamente, como disse o presidente, não há mágica a fazer. Há, no entanto, um país a governar, que está a exigir melhor coordenação, eficiência e coragem na adoção de medidas para reposicionar a economia e avançar na área social, certamente a que deveria ter sido contemplada com a vitalidade e o arrojo exibidos pelo PT quando na oposição.
No tocante às tensões sociais, o presidente ofereceu à sociedade algo que ela parece ainda não ter adquirido: a segurança de que o poder público arbitrará os conflitos no campo de acordo com a lei. A reforma agrária precisa ser realizada, como prometido, de modo pacífico e com a celeridade cobrada da gestão anterior. O ambiente, porém, permanece turvo, como atesta o recente comentário do presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, sobre a "leniência" com invasões.
Se, em sete meses, Lula tem fatos positivos a mostrar, são evidentes as decepções e os erros a corrigir. Os futuros desafios são de vulto e pedem a elevação do padrão até aqui demonstrado pelo novo governo. O tempo ainda dirá se o PT está à altura das promessas que fez.



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