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RUY CASTRO
Tentacular e impiedosa
RIO DE JANEIRO - Você toma
um táxi, senta-se no banco de trás e
diz ao motorista aonde quer ir. E,
quando já saboreia a ideia de passar
a viagem admirando o cenário e zerando o QI, seus olhos dão de cara
com uma novidade: um anúncio
nas costas do banco à sua frente. Ou
o anúncio de um anúncio, prometendo que, em breve, aquele espaço
será ocupado por publicidade.
Pronto. Lá se foi um dos últimos refúgios do ser humano.
Os aviões estão tomados há muito tempo. Já não se pode mais cochilar na Ponte Aérea e restaurar as
forças para uma reunião de negócios no Rio ou em SP ao fim da viagem. Uma das principais companhias aéreas tortura o passageiro,
bombardeando-o durante o voo
com os anúncios que saem de televisõezinhas penduradas no teto
-as quais berram desde os irritantes anúncios institucionais da empresa até comerciais de bancos, seguros ou hotéis.
Aliás, os táxis podem ter tirado
sua sinistra ideia daqueles anúncios
que os aviões já imprimem há tempos nas toalhinhas sobre o encosto
das poltronas. E as miniTVs nos
aviões também podem ter inspirado o aparelhinho de três polegadas
que alguns taxistas mais cruéis acoplam ao painel.
Junte a isso as telinhas que nos
acompanham nos elevadores, nas
salas de espera e até em templos religiosos para se convencer de que
não há como escapar. A propaganda
é tentacular e impiedosa. Alguém
me disse que os ovos à venda nos
supermercados logo terão suas cascas decoradas com publicidade.
Não duvido -pois se até a bunda
dos jogadores e dos juízes de futebol estampa agora o nome de um fabricante de meias.
O falecido Paulo Francis recusava-se a usar calças jeans porque elas
traziam a marca do fabricante costurada no bolso traseiro. Justificava-se: "Em bunda que mamãe beijou vagabundo nenhum põe grife".
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