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LIÇÕES DE CLINTON
É interessante comparar o
que disse o presidente George
W. Bush na quinta-feira passada, na
sede das Nações Unidas, com o que
escreveu o seu antecessor Bill Clinton em artigo que esta Folha publicou no domingo.
Emitindo mensagens que mais se
assemelham a ultimatos, Bush foi
monotemático. Pressionou a ONU
para que adote a linha dura contra o
regime do ditador Saddam Hussein.
Já Clinton, com sutileza, não deixou
de criticar a definição de prioridades
do seu sucessor. Afirmou que a necessidade de enfrentar a ameaça iraquiana "não é tão imediata quanto a
de reiniciar o processo de paz no
Oriente Médio e interromper a violência nessa região e pode não exigir
uma invasão." Além disso, elencou
uma série de ações visando à obtenção de maior cooperação internacional que foram simplesmente abandonadas por Bush.
Foi drástica e rápida a mudança na
condução da política externa norte-americana quando da passagem de
Clinton para Bush. Alguns dos mais
importantes eixos da agenda multilateralista empreendida durante oito
anos de gestão democrata foram deixados de lado. Os trágicos atentados
a Nova York e Washington atuaram
como forte catalisador nesse processo. Mas, já na campanha de Bush e
em alguns atos de sua gestão anteriores ao 11 de setembro, a sua firme
intenção de empreender uma guinada unilateralista havia ficado clara.
Clinton não deve ser visto como
um "superpresidente", ou como um
benfeitor da humanidade. Como todo chefe do Estado mais poderoso
do planeta, o democrata não fugiu à
regra de buscar, sempre, aumentar a
predominância política, econômica
e militar do seu país. Mas os meios
pelos quais a gestão Clinton agia para atingir esses objetivos eram, no
mínimo, menos destrutivos para a
teia das relações internacionais.
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