São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Crescimento x inflação
PAUL SINGER
Além disso, a alta dos juros sinaliza ao mercado, desde a primeira elevação, que o crescimento terá fôlego curto. Os empresários já começaram a investir, confiantes nas previsões das autoridades econômicas de que o crescimento continuará por longo período. Se a previsão oficial agora passa a ser que a inflação ameaça o país e, por isso, precisamos esfriar a demanda, muitos empresários engavetarão seus planos de investimento. O que acabará por provocar o temido excesso generalizado de demanda -que, no entanto, poderá ser evitado por meio de investimentos que previnam o surgimento de gargalos na oferta de bens e serviços. O Brasil precisa de no mínimo alguns anos de crescimento ininterrupto para dar início ao resgate de sua dívida social. Ele permitirá atingir ganhos crescentes de produtividade, aumento da receita e, conseqüentemente, da inversão e do gasto social do governo. Para sustentar o crescimento, é necessário que políticas de fomento, aplicadas às cadeias produtivas, permitam moderar e/ou adiar reajustamentos de preços e salários até que nova capacidade de produção permita o completo atendimento da demanda efetiva. Nesse contexto, a proposta de entendimento entre governo, empresários e trabalhadores apresentada por Luiz Marinho, presidente da CUT, é extraordinariamente oportuna. O governo tem autoridade para reunir os atores das principais cadeias produtivas e negociar contratos de contenção de preços (inclusive do trabalho) em troca de reduções temporárias de impostos indiretos. As eventuais renúncias fiscais seriam inversões no futuro aumento da produção, que acabaria proporcionando receitas fiscais maiores, pois, como todos sabem, uma alíquota reduzida, aplicada a quantidades maiores de mercadorias, pode gerar receita bem maior do que sem a renúncia fiscal. No começo dos 1990, acordos dessa espécie foram fechados em diversas cadeias produtivas, com resultados bastante positivos. Agora podemos usar essas experiências para sustentar o crescimento da economia, dos rendimentos dos trabalhadores, do consumo, da produção e do emprego. Seria uma pena se, em vez disso, optássemos por estrangular o crescimento recém-iniciado, num momento em que ele desperta a esperança popular de que finalmente o país tenha encontrado a saída. Paul Singer, 72, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e pesquisador do Cebrap, é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Eduardo Graeff: No divã Índice |
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