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ANTONIO DELFIM NETTO
A ação do Fed
A SITUAÇÃO da economia
americana continua extremamente confusa.
As informações contraditórias e
a incerteza sobre o comportamento do Departamento do Tesouro e
do Fed não permitem nenhuma
antecipação do que poderá ocorrer
no futuro próximo. Todas as "precisões" (feitas por charlatães ou
por Prêmios Nobel) valem rigorosamente a mesma coisa!
No final de agosto, as previsões e
informações eram as seguintes: 1) o
PIB dos EUA deve crescer 1,5% em
2008 (contra a média de 3,1% antes
da crise); 2) a taxa de inflação anual
em julho de 2008 é de 5,6%, contra
2,4% em 2007; 3) a taxa de desemprego era de 5,7%, contra 4,6% em
2007; 4) o déficit comercial era da
ordem de 5,6% do PIB, e o déficit
em conta corrente, de 4,8%; 5) o
déficit fiscal nominal andava em
torno de 2,5% do PIB; 6) a taxa de
juro nominal de curto prazo continuava negativa (-3%).
A manifestação da crise financeira, que parecia restrita ao setor
imobiliário, foi enfrentada com
uma dramática redução da taxa do
Fed Fund de 325 pontos, acompanhada de um suprimento de liqüidez e de uma devolução de impostos. Logo em seguida começaram a
surgir novos problemas com a
"descoberta" de operações financeiras altamente arriscadas, mas
não reguladas e, o que é pior, não
adequadamente registradas nos
balanços!
Com isso introduziu-se uma certeza que vai reduzindo o crédito e,
lentamente, atingindo o funcionamento do setor real da economia.
Cada vez mais é visível que a cada
aparente "melhora" se segue uma
"piora" mais aguda. Isso mostra
que a solução do Fed de dar tempo
para o mercado absorver lentamente os prejuízos é mais difícil do
que parecia. Ele está sendo arrastado para ações que eram impensáveis. "Inventou" novas janelas que
flexibilizaram o suprimento de liquidez: 1) ampliação do prazo de
empréstimo do "open market"; 2) o
"leilão" de recursos; 3) o fornecimento de liqüidez para os "dealers"; 4) os "swaps" (troca de papéis
de liqüidez duvidosa por títulos do
Tesouro). Não conseguiu "desempoçar" a liqüidez e não restabeleceu a confiança dos investidores.
Diante desses fatos, o Tesouro
foi forçado a estatizar os dois organismos mais importantes para o
funcionamento do mercado imobiliário.
Cercado de um lado pela paulatina redução das atividades reais e de
outro pela pressão inflacionária
produzida pelo aumento dos preços dos alimentos e do petróleo
-às vésperas de uma eleição nacional-, o Fed claramente escolheu
deixar de perseguir a taxa de inflação "confortável" (2% ao ano) em
troca de tentar manter a economia
real a salvo de uma tragédia.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
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