São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

A ação do Fed

A SITUAÇÃO da economia americana continua extremamente confusa.
As informações contraditórias e a incerteza sobre o comportamento do Departamento do Tesouro e do Fed não permitem nenhuma antecipação do que poderá ocorrer no futuro próximo. Todas as "precisões" (feitas por charlatães ou por Prêmios Nobel) valem rigorosamente a mesma coisa! No final de agosto, as previsões e informações eram as seguintes: 1) o PIB dos EUA deve crescer 1,5% em 2008 (contra a média de 3,1% antes da crise); 2) a taxa de inflação anual em julho de 2008 é de 5,6%, contra 2,4% em 2007; 3) a taxa de desemprego era de 5,7%, contra 4,6% em 2007; 4) o déficit comercial era da ordem de 5,6% do PIB, e o déficit em conta corrente, de 4,8%; 5) o déficit fiscal nominal andava em torno de 2,5% do PIB; 6) a taxa de juro nominal de curto prazo continuava negativa (-3%).
A manifestação da crise financeira, que parecia restrita ao setor imobiliário, foi enfrentada com uma dramática redução da taxa do Fed Fund de 325 pontos, acompanhada de um suprimento de liqüidez e de uma devolução de impostos. Logo em seguida começaram a surgir novos problemas com a "descoberta" de operações financeiras altamente arriscadas, mas não reguladas e, o que é pior, não adequadamente registradas nos balanços!
Com isso introduziu-se uma certeza que vai reduzindo o crédito e, lentamente, atingindo o funcionamento do setor real da economia.
Cada vez mais é visível que a cada aparente "melhora" se segue uma "piora" mais aguda. Isso mostra que a solução do Fed de dar tempo para o mercado absorver lentamente os prejuízos é mais difícil do que parecia. Ele está sendo arrastado para ações que eram impensáveis. "Inventou" novas janelas que flexibilizaram o suprimento de liquidez: 1) ampliação do prazo de empréstimo do "open market"; 2) o "leilão" de recursos; 3) o fornecimento de liqüidez para os "dealers"; 4) os "swaps" (troca de papéis de liqüidez duvidosa por títulos do Tesouro). Não conseguiu "desempoçar" a liqüidez e não restabeleceu a confiança dos investidores. Diante desses fatos, o Tesouro foi forçado a estatizar os dois organismos mais importantes para o funcionamento do mercado imobiliário.
Cercado de um lado pela paulatina redução das atividades reais e de outro pela pressão inflacionária produzida pelo aumento dos preços dos alimentos e do petróleo -às vésperas de uma eleição nacional-, o Fed claramente escolheu deixar de perseguir a taxa de inflação "confortável" (2% ao ano) em troca de tentar manter a economia real a salvo de uma tragédia.

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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