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Cautelas tucanas
Disputa entre Serra e Aécio mostra menos a riqueza de opções e mais a falta de agenda alternativa na oposição
HABILIDADE é o que certamente não falta ao
governador de Minas
Gerais, o tucano Aécio
Neves. Sua entrevista à Folha,
publicada nesta quarta-feira, notabiliza-se pelas clássicas virtudes que se associam aos políticos
de seu Estado.
"É hora de termos cautela",
declarou Aécio, tipicamente, ao
avaliar o quadro da sucessão presidencial. A frase, com tudo o
que significa e deixa de significar, não deixa de ser adequada a
todos os participantes do jogo.
Disputando com o governador
de São Paulo, José Serra, a vaga
de candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2010, Aécio encontra-se em clara desvantagem nas pesquisas eleitorais.
No último levantamento do
Datafolha, realizado em meados
de agosto, uma eventual candidatura Serra ficava em primeiro
lugar, com cerca de 38% das preferências do eleitorado, enquanto o cenário alternativo colocava
Aécio Neves atrás de Ciro Gomes e Dilma Rousseff, com 16%
das intenções de voto.
Numa eleição presidencial,
lembrou todavia o governador
de Minas, "mais importante do
que a largada é a chegada".
Está provavelmente correta a
avaliação de Aécio, relativizando
o peso das pesquisas neste momento; tampouco seria o caso de
acreditar, lembra o governador,
que "com uma canetada, com
um discurso, Lula elege o seu
candidato". Obviamente, seu
diagnóstico se orienta no sentido de sugerir que o futuro não se
encaminha para uma polarização entre Serra e Lula, havendo
espaço para outro nome, o dele
próprio, Aécio Neves.
Do ponto de vista da pura tática eleitoral, o astuto realismo do
governador de Minas não tem
como despertar maior objeção;
sua postulação à Presidência se
baseia seja nos índices de aprovação com que conta em seu Estado, seja nas incertezas contidas em toda futurologia política.
Pode-se, entretanto, analisar a
entrevista de Aécio Neves de
uma ótica inversa. A indefinição
das candidaturas, a impossibilidade de se tomar a disputa sucessória como um jogo já definido, seria na verdade reflexo de
uma situação caracterizada mais
pelo vazio do que pela riqueza de
alternativas.
Vive-se, na verdade, situação
peculiar. O candidato mais bem
situado nas pesquisas é oposicionista, mas o governo alcança níveis inéditos de popularidade.
Serra e Aécio querem disputar a
Presidência, mas não mostraram até agora nenhuma agenda
alternativa à do atual governo.
Já se disse, de certo escritor,
que era um puro estilo à procura
de ideias que nunca lhe ocorriam. Os candidatos da oposição
parecem ser, na melhor das hipóteses, índices de popularidade
à procura de um discurso que
não sabem qual será.
Nas questões mais debatidas
do momento, como o pré-sal e a
compra de equipamentos militares, é apenas o governo quem toma a palavra. Não admira que a
mera especulação tática, de que
a entrevista de Aécio é um exemplo, venha ocupar o centro das
preocupações oposicionistas.
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