São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

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Cautelas tucanas

Disputa entre Serra e Aécio mostra menos a riqueza de opções e mais a falta de agenda alternativa na oposição

HABILIDADE é o que certamente não falta ao governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves. Sua entrevista à Folha, publicada nesta quarta-feira, notabiliza-se pelas clássicas virtudes que se associam aos políticos de seu Estado.
"É hora de termos cautela", declarou Aécio, tipicamente, ao avaliar o quadro da sucessão presidencial. A frase, com tudo o que significa e deixa de significar, não deixa de ser adequada a todos os participantes do jogo.
Disputando com o governador de São Paulo, José Serra, a vaga de candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2010, Aécio encontra-se em clara desvantagem nas pesquisas eleitorais.
No último levantamento do Datafolha, realizado em meados de agosto, uma eventual candidatura Serra ficava em primeiro lugar, com cerca de 38% das preferências do eleitorado, enquanto o cenário alternativo colocava Aécio Neves atrás de Ciro Gomes e Dilma Rousseff, com 16% das intenções de voto.
Numa eleição presidencial, lembrou todavia o governador de Minas, "mais importante do que a largada é a chegada".
Está provavelmente correta a avaliação de Aécio, relativizando o peso das pesquisas neste momento; tampouco seria o caso de acreditar, lembra o governador, que "com uma canetada, com um discurso, Lula elege o seu candidato". Obviamente, seu diagnóstico se orienta no sentido de sugerir que o futuro não se encaminha para uma polarização entre Serra e Lula, havendo espaço para outro nome, o dele próprio, Aécio Neves.
Do ponto de vista da pura tática eleitoral, o astuto realismo do governador de Minas não tem como despertar maior objeção; sua postulação à Presidência se baseia seja nos índices de aprovação com que conta em seu Estado, seja nas incertezas contidas em toda futurologia política.
Pode-se, entretanto, analisar a entrevista de Aécio Neves de uma ótica inversa. A indefinição das candidaturas, a impossibilidade de se tomar a disputa sucessória como um jogo já definido, seria na verdade reflexo de uma situação caracterizada mais pelo vazio do que pela riqueza de alternativas.
Vive-se, na verdade, situação peculiar. O candidato mais bem situado nas pesquisas é oposicionista, mas o governo alcança níveis inéditos de popularidade. Serra e Aécio querem disputar a Presidência, mas não mostraram até agora nenhuma agenda alternativa à do atual governo.
Já se disse, de certo escritor, que era um puro estilo à procura de ideias que nunca lhe ocorriam. Os candidatos da oposição parecem ser, na melhor das hipóteses, índices de popularidade à procura de um discurso que não sabem qual será.
Nas questões mais debatidas do momento, como o pré-sal e a compra de equipamentos militares, é apenas o governo quem toma a palavra. Não admira que a mera especulação tática, de que a entrevista de Aécio é um exemplo, venha ocupar o centro das preocupações oposicionistas.



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