São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

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KENNETH MAXWELL

O desafio do juiz Rakoff

O PRESIDENTE Barack Obama esteve em Nova York na segunda-feira. Almoçou com o ex-presidente Bill Clinton. O evento não produziu muitas notícias, a não ser uma foto na primeira página do "New York Times". Em seguida, Obama pronunciou um importante discurso no Federal Hall, em Wall Street, o local da posse do general George Washington como presidente.
Houve pouca referência na imprensa ao que o presidente efetivamente disse. As histórias giravam muito mais em torno das reações da plateia, formada por figurões de uma Wall Street gélida, para dizer o mínimo.
O discurso no Federal Hall marcava o primeiro aniversário do colapso do Banco Lehman Brothers e o início da pior crise econômica desde a Grande Depressão. O objetivo do presidente era inspirar os compatriotas quanto a uma grande reforma no sistema financeiro.
Mas era uma causa difícil de defender. A audiência o aplaudiu apenas uma vez. Reunidos para ouvir o presidente estavam gigantes do mundo das finanças, como Richard Parsons, presidente do conselho do Citigroup; Gary Cohn, presidente do Goldman Sachs; Roger Altman, presidente-executivo da Evercore Partners; e Peter Peterson, fundador do Blackstone Group.
"Não voltaremos aos dias de comportamento insensato e excessos incontidos que estão no cerne desta crise, nos quais muita gente estava motivada apenas pelo lucro rápido e por bonificações inchadas", disse Obama aos financistas.
Mas a realidade é que as maiores empresas de Wall Street estão conduzindo forte lobby para garantir que quaisquer tentativas de limitar o salário dos executivos sejam derrotadas.
Com o Congresso em Washington preocupado com a questão da saúde, e diante de forte oposição às suas propostas para a reforma do sistema financeiro, o presidente Obama retornou de sua folga em Martha's Vineyard, em agosto, para encontrar uma virada radical nas percepções públicas. A porcentagem de pessoas que dizem que são "fortemente contrárias às ações do presidente" cresceu de 6% em fevereiro para 35% hoje.
Foi preciso um juiz federal, Jed Rakoff, para reconduzir a atenção às questões reais que estão em jogo. Na segunda-feira, ele rejeitou um acordo extrajudicial de US$ 33 milhões entre a Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de valores mobiliários) e o Bank of America, observando que ele "não se coaduna com as mais elementares noções de justiça e moralidade". O juiz ordenou que as partes vão a julgamento em fevereiro.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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