São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

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PAINEL DO LEITOR

Energia
"Sob o título "O avô da crise energética", o colunista Luís Nassif publicou na Folha, em 8 de junho (Dinheiro, pág. B3), artigo que acumula soma enorme de erros de informação. Começo por retificar que o ex-presidente Itamar Franco tenha sido o agente direto do desmonte da Eletrobrás. Foi, muito ao contrário, o seu salvador. À época, havia 19 usinas geradoras de energia com obras paralisadas e geradores federais e distribuidoras estaduais virtualmente falidos. A Eletrobrás tinha problema de folha de pagamento e era devedora da Ande, a banda paraguaia de Itaipu. O sistema elétrico estava em delíquio por inadimplência gerada pela insuficiência tarifária do governo Collor. Assim, três meses após eu ter assumido -em 8 de outubro- o Ministério de Minas e Energia, o presidente Itamar encaminhou ao Congresso projeto, transformado na lei 8.631, que foi a carta de alforria do sistema elétrico, liquidando com a remuneração garantida, que o levava às portas da falência. Também foi realizado o maior encontro de contas da história econômica do país para saneamento do passivo acumulado -no valor de US$ 26 bilhões. Só a Cesp e a Eletropaulo deviam a Furnas e a Itaipu mais de US$ 5 bilhões. Quando Itamar assumiu o governo, o valor de mercado da Eletrobrás, em Bolsa, era de US$ 2,5 bilhões. Dois anos e três meses mais tarde, ao entregar o governo a seu sucessor, o valor era de US$ 23 bilhões. A emissão de debêntures, oferecendo aos seus detentores forma atrativa de conversão em ações ordinárias, ocorreu diante da necessidade de retomar investimentos em obra prioritária de geração de energia por região do país. Operação essa discutida na direção da Eletrobrás, na Secretaria do Tesouro Nacional -esta a responsável pela gestão patrimonial do governo- e no Conselho de Administração. O preço da conversão atendeu às disposições legais e às recomendações da CVM, e o Tribunal de Contas da União deu-se por satisfeito ao receber toda a documentação. Para finalizar, o governo federal, entre 1995 e 1999, investiu em energia elétrica, incluindo capitais privados, uma média anual de US$ 5 bilhões. Só em 1992, 1993 e 1994, na administração Itamar, o governo aplicou anualmente US$ 7 bilhões."
Paulino Cícero de Vasconcelos, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG)

Resposta do jornalista Luís Nassif -
Na coluna em questão, acusei Paulino Cícero, como ministro das Minas e Energia, e o então presidente da Eletrobrás, José Alqueres, de terem vendido por cerca de US$ 360 milhões parte do capital da Eletrobrás, que, pelos próprios números apresentados por Paulino, poderia valer US$ 2,9 bilhões. Em sua carta, ele se limita a informar que a operação "atendeu às disposições legais". Não apresenta uma justificativa técnica sequer para essa queima de patrimônio público.

PT
"Congratulo-me com Vinicius Torres Freire pelo brilhante artigo "O PT que diz qualquer coisa" (Opinião, pág. A2, 15/ 10). Mesmo sendo simpatizante do PT, não dá para ser conivente com a sua política de alianças para as próximas eleições nem ficar indiferente à conduta do camarada Lula, que não aceita ser outra coisa -quando o assunto é disputa eleitoral- senão o eterno candidato petista à presidência da República. Será que o ostensivo apoio que o PT vem dispensando à candidatura Lula é sinal do tipo de democracia que seus partidários desejam ver generalizada por todo o país? Se assim for, viveremos todos na pele aquilo que hoje vive o senador Eduardo Suplicy."
Jorge Paulo dos Santos Watrin
(Piracicaba, SP)

"Na qualidade de comentarista político, o jovem jornalista Vinicius Torres Freire é um excelente editor de economia. Pelo menos, é o que se pode extrair do artigo "O PT que diz qualquer coisa". O texto em questão, ainda que seja uma publicação do Grupo Folha, é ingênuo e contaminado pela lógica primária do seu redator. Por falta de sorte ou de atenção, as grosseiras opiniões do redator encontraram reparo na página A5 da mesma edição com as sofisticadas e inteligentes impressões do professor emérito da USP Antonio Candido, que, em magistral entrevista, trata do mesmo assunto escolhido por Vinicius Torres Freire. Para não repetir a grosseria redacional do jovem repórter, não cabe dissertar sobre a inspiração cabotina sugerida no texto. Mas não é correto tratar um partido da dimensão do PL como "dissidência do PFL" ou "legenda de aluguel". Muito menos se pode julgar como apropriado um tratamento que não respeite uma figura como a do senador José Alencar. Só mesmo um redator sem conhecimento de causa em política nacional poderia ignorar a origem institucional do PL ou confundi-lo com as siglas que se vendem aos governos por alguns tostões. O PL, para a informação do redator, é uma legenda inegociável, como inegociável foi a opção do nosso partido pela oposição ao governo Fernando Henrique desde 1995."
Valdemar Costa Neto, deputado, presidente nacional do Partido Liberal (São Paulo, SP)

LRF
"Acho que a Lei de Responsabilidade Fiscal deveria ser aplicada principalmente no Poder Executivo Federal -no caso, para o presidente da República. Quando o povo o elegeu, não deu, juntamente com o voto, um cheque em branco para que o presidente gastasse quanto, como e onde quisesse. Se a dívida externa cresceu muito, acho que foi devido, no mínimo, à irresponsabilidade do presidente e da sua equipe perante a nação. E, no final, ele sai deixando esse rombo para o próximo presidente."
Oreste Bianchi Júnior (Campinas, SP)

Hospitais públicos
"É vergonhoso ler Adib Jatene defender a idéia de usar os hospitais universitários para atender, diferenciadamente, os pacientes que dispõem de recursos ("Hospital universitário competitivo", "Tendências/Debates", pág. A3, 15/10). "Deverá poder atender, também, clientela privada e, portanto, será necessário que lhe sejam oferecidas instalações adaptáveis ao que essa clientela exige (...)". Quer dizer que uma pessoa menos privilegiada -a grande maioria- deve ser tratada com menos qualidade? Ela não tem direito a exigências? Deve gozar de um hospital menos equipado? Entrar por portas diferentes? Que espécie de democracia é essa?"
Iuri Holsback Guerrero
(Campo Grande, MS)

LER/Dort
"A Fenadados e seus sindicatos filiados não poderiam deixar de externar a profunda indignação causada pelo artigo assinado pelo sr. José Knoplich ("Revendo o diagnóstico de LER/Dort", "Tendências/Debates", pág. A3, 10/10). Indignados estamos por ver que opiniões como as ali colocadas com certeza só foram construídas para atender, sob encomenda, a interesses inconfessáveis de grupos empresarias e governamentais que estão desmontando a previdência pública no Brasil e deteriorando as condições de trabalho. É triste reconhecer que ainda existem estudiosos -com poder de influência no meio acadêmico e na mídia- com a capacidade de adulterar e destorcer o seu "saber" para atender a interesses que em nada ajudam a superar as desigualdades sociais."
Dilson José dos Santos, diretor de assuntos profissionais e de saúde da Fenadados -Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Salvador, BA)



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