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Abater a dívida
Com setor privado dando mostras de apetite pelo risco, governo precisa controlar gasto e acelerar redução da sua dívida
O PRINCIPAL mecanismo
utilizado pelos governos após o Real para
ajustar as contas públicas foi a ampliação da carga
tributária. O peso dos impostos
saltou de 25,8% do PIB, em 1993
para 37,4% do PIB, em 2005. Essa expansão custeou superávits
fiscais primários crescentes em
um contexto de aumento das
despesas correntes, sobretudo
gastos com a Previdência -em
razão do envelhecimento da população e da política de recuperação do salário mínimo.
Se esse arranjo evitou a explosão da dívida pública, demonstra
dificuldade em reduzi-la do alto
patamar em que se encontra
-50% do PIB. O que é pior no
endividamento público brasileiro, contudo, não é o tamanho do
débito, mas seu perfil ruim (de
curto prazo) e seu custo absurdo:
seus encargos financeiros consumiram 8% de tudo o que foi produzido no país no ano passado.
Agora, uma conjunção de fatores vai abrindo uma nova oportunidade para que o governo
abata seu passivo -melhorando
o seu perfil e diminuindo o seu
custo- com mais velocidade.
O mercado de capitais mostra
sinais de dinamismo. Até outubro, as emissões de ações superam os R$ 27 bilhões, 60% acima
do valor de 2005. Processo semelhante pode ser observado
nos mercados de debêntures e de
recebíveis (modalidades de dívida privada). O momento é um
dos melhores em uma década para o mercado de capitais brasileiro. O setor imobiliário também
dá sinais de recuperação, e as famílias ensaiam a contratação de
financiamentos mais longos para a compra da casa própria.
A experiência e a doutrina econômica demonstram que a dívida pública tem condições de ser
reduzida com mais vigor quando
aumenta o apetite para o risco no
setor privado. Embora em ritmo
ainda incipiente, esse movimento de empresas e famílias em
busca de mais crédito pode ser o
prenúncio de uma virada no ciclo do endividamento no Brasil.
Juros básicos e inflação em
queda e emprego e renda moderadamente ascendentes permitem projetar que esse cenário favorável à tomada de risco por
agentes privados vá perdurar.
Falta, no entanto, entrar em cena um elemento que potencialize os ganhos até aqui. Falta o setor público mudar o padrão do
ajuste fiscal que tem prevalecido
há mais de uma década e passar a
controlar para valer as suas despesas, sem ataques adicionais ao
bolso do contribuinte.
Colocar o pé no freio do gasto
público -num contexto em que
empresas e famílias demandam
crédito- é criar uma oportunidade para a redução veloz da dívida pública. Significa ampliar o
horizonte para a permanência
do cenário de preços comportados e juros básicos cadentes. Significa abrir, em médio prazo,
uma perspectiva concreta para a
retomada dos dispêndios do Estado em infra-estrutura.
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