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CLÓVIS ROSSI
Lula se enrosca na língua
SÃO PAULO - Os noticiários on-line atribuem a seguinte frase ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
durante o programa "Roda Viva",
que foi ao ar ontem mesmo, a propósito do afastamento de Ricardo
Berzoini da coordenação de sua
campanha:
"Chamei o presidente do partido
lá em casa e falei: eu quero saber
quem fez essa burrice para não usar
a palavra que estou pensando agora. Você, como presidente do partido, tem obrigação de dar uma resposta à sociedade. Ele não deu [a
resposta], eu o afastei da coordenação da campanha".
Quer dizer então que o presidente de um partido tem obrigação de
saber quem fez "essa burrice" (mais
que "burrice", tem toda a pinta de
ser crime eleitoral) e o presidente
da República (também presidente
de honra do partido) não tem a
obrigação de saber de nada?
Lula usou à exaustão o argumento de que nem em família o pai, se
está na sala, pode saber o que se
passa na cozinha (ou qualquer outra dependência). Aí, de duas uma:
ou o argumento vale também para
Berzoini ou, se não vale, não serve
para proteger Lula.
É óbvio, mas se torna obrigatório
dizer: o presidente da República
tem à mão instrumentos muito
mais potentes do que o presidente
de um partido (qualquer partido)
para averiguar quem fez "essa burrice" (e os demais crimes de que o
PT é acusado, a ponto de sua cúpula
ter sido chamada de "organização
criminosa" pelo procurador-geral
da República).
No entanto, o presidente sistematicamente nega à sociedade as
informações que acha que Berzoini
tinha obrigação de dar.
Diz que foi traído (no episódio do
mensalão), mas não diz por quem.
Joga a culpa por todo o escândalo
do dossiê em cima de Berzoini e dos
"aloprados", como se ele próprio
fosse inimputável.
Lula nem precisa de opositores
para se enroscar na língua.
crossi@uol.com.br
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