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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Produtividade libertadora
O QUE A nação mais quer é
crescimento econômico
com inclusão social. Há pré-requisito para que alcance o que
deseja. Difícil exagerar seu relevo
ou entender sua quase completa
ausência do debate brasileiro.
Custo de unidade-trabalho é o
nome dado à remuneração média
do trabalho, por unidade de produto feita por aquele trabalho. Junta
produtividade e custo da mão-de-obra num único critério de comparação.
Estudos recentemente publicados mostram algo que ajuda a explicar a mediocridade em que, há
mais de 25 anos, vegetamos. Num
desses estudos, em que se dá valor
100 à unidade-trabalho nos Estados Unidos, a China recebe 21, e a
Índia, 19. Em seus setores organizados, têm, portanto, unidade-trabalho cinco vezes mais barata do
que os Estados Unidos. Para o México, porém, o número é 97: o salário é muito mais baixo do que nos
Estados Unidos, mas a produtividade também é. O país não tem como reduzir o custo da mão-de-obra
a níveis chineses. E não conseguiu
salto de produtividade. Falta informação suficiente para calcular a
medida no Brasil. Há, porém, razões para crer que estamos próximos dessa situação mexicana.
Nem México, nem China. Só ruína nos aguarda se insistirmos na
tentativa insensata de nos tornarmos uma China menos populosa,
menos equipada, menos ousada e
mais cara. Ganho de produtividade, não aposta em trabalho desqualificado, desequipado e barato, é o
caminho.
Algumas iniciativas factíveis nos
poriam nesse rumo. No bojo do esforço prioritário para melhorar a
qualidade da escola pública, ensino
técnico e profissionalizante que
não negue a nenhuma criança brasileira, sob pretexto de profissionalizá-la, o domínio de capacitações
conceituais básicas. Supressão de
todos os encargos sobre a folha de
salários e incentivos para empregar e qualificar os trabalhadores
mais pobres. Associação entre governos, universidades e empresas,
por meio de entidades autônomas
como a Embrapa, para desenvolver, adaptar e transferir tecnologias apropriadas a nossa circunstância. Política industrial descentralizada, participativa, pluralista e
experimental. Dedicada menos a
favorecer alguns setores da economia sobre outros do que a difundir
práticas que deram certo. E a ajudar milhares de empreendimentos
emergentes a ganhar acesso aos
mercados mundiais. Produtividade libertadora, porque baseada na
capacitação de muitos.
Dirão que estou pedindo muito.
Estou pedindo o indispensável para que o Brasil se possa levantar.
www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às terças-feiras nesta coluna.
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