![]() São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011 |
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RUY CASTRO Adereços de mão RIO DE JANEIRO - As fotos, sempre em preto e branco, dão uma sensação de urgência, perigo, tensão. Claro, foram batidas em movimento. Nelas há jovens correndo, perseguidos por soldados brandindo cassetetes; rapazes apedrejam alvos fora do quadro; e uma que até hoje me abala: um paisano -policial- tirando o cinto das calças para usá-lo contra um garoto, como nossos pais tinham feito até tão pouco. Grandes fotos. Revi-as outro dia, numa pasta de recortes sobre o período. Mas nem preciso disso para me lembrar porque, em algumas daquelas cenas, eu estava lá, ao vivo, numa dupla militância -repórter do "Correio da Manhã" e estudante da FNFi (dizia-se fê-nê-fi, Faculdade Nacional de Filosofia). O ano era 1967. O cenário, a avenida Rio Branco e adjacências. O enredo, as passeatas e os corre-corres contra a ditadura. Estranho é constatar a nossa pobreza de recursos. Ia-se para a passeata com a coragem e a generosidade típicas dos jovens e, no máximo, rolhas no bolso, para jogar sob as patas dos cavalos. Fora um ou outro coquetel molotov, a munição eram as pedras portuguesas, que se arrancava das calçadas. Os slogans estavam na ponta da língua, mas, quando a correria começava, mal dava tempo de gritar "Abaixo a ditadura!". E as roupas dos meninos? Muitos de nós já usávamos jeans, mas camisetas e tênis eram raros. O normal era a camisa de manga curta, para fora das calças, e o sapato social, sem meia. Bem careta. Pensei nisso ao ler sobre as marchas anticorrupção no último feriado. Os manifestantes, usando máscaras, narizes de palhaço e cara pintada, levaram bandeiras, bandanas e vassouras verde-amarelas, camisetas com dizeres impressos, cruzes aos milhares, faixas, cartazes etc. Puxa, o que não teríamos aprontado em 1967 se tivéssemos esses adereços de mão! Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Minuto de silêncio Próximo Texto: Aécio Neves: Escolhas Índice | Comunicar Erros |
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