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AJUSTE DOLOROSO
A fim de "sinalizar" positivamente para os financiadores
externos e de viabilizar um empréstimo multibilionário do FMI, o governo da Argentina dispôs-se a avançar
ainda mais no corte de despesas.
Ontem, agravou-se o impasse entre
governo central e Províncias sobre a
proposta de congelamento, pelos
próximos anos, das despesas dos
governos locais. Mas o sintoma da
cega disposição fiscalista do Executivo argentino reside na proposta de
abolir a Previdência pública. E de fazê-lo num repente, sem período de
transição, premido apenas pela necessidade imediata de economizar.
Enquanto o governo recolhe o cobertor social, a pobreza e o desemprego aumentam na Argentina, e a
produção não pára de cair. Nesse
contexto, a reação popular cresce.
Está programada para a próxima semana uma greve geral de trabalhadores. Num acontecimento raro, três
das principais entidades sindicais
entraram em acordo sobre o movimento. Protestos violentos e bloqueios de estradas por caminhoneiros tornam-se mais frequentes.
Setores da elite argentina questionam os críticos, apregoando a união
pelo bem do país. Mas é impossível,
no atual contexto, manter baixo o nível de conflito social por período dilatado. Não há consenso que resista
muito a políticas prolongadas que
geram desemprego, combinadas à
diminuição progressiva da capacidade de o Estado prover bem-estar.
É possível que toda teoria sociológica e econômica seja insuficiente
para descrever o aparente beco sem
saída a que chegou a Argentina. Enquanto a paridade entre peso e dólar
permanece inquestionável como um
tabu, as autoridades governamentais
do país vizinho impingem à população mais pobre uma boa parcela dos
custos do ajuste fiscal. Talvez a psicologia tenha mais a dizer sobre o assunto, e o câmbio fixo, além de um
artefato de política econômica, seja
uma obsessão mórbida.
Pior é a sensação de que todo esse
sacrifício se revelará vão em médio
prazo se os argentinos não se dispuserem a desfazer a sua armadilha
cambial. Que o preço desse despertar
não seja uma convulsão social.
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