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CLÓVIS ROSSI
Censura e melodrama
SÃO PAULO - A Rede Globo de Televisão tem toda a razão de reclamar,
com veemência, da decisão do Juizado da Infância e da Juventude do Rio
de Janeiro de impedir a participação
de menores de idade na novela "Laços de Família".
É importante observar que a decisão judicial não alcança as crianças
que vêem a novela, mas as que dela
participam. Já seria terrível se o poder público, em qualquer de seus braços, se dedicasse a determinar o que
cada família pode ou não ver.
Intervir no trabalho de crianças só
seria tolerável se os juizados tivessem
condições de proibir o trabalho de
menores de idade em atividades de
fato obscenas (para crianças), como
canaviais, carvoarias e tantos outros.
É até possível que uma criança seja
circunstancialmente corrompida em
uma cidade cenográfica. Mas o sentido comum elementar manda dizer
que é mais provável que elas estejam
mais protegidas nesse ambiente do
que nas cidades de verdade.
Sei que crescentes setores da sociedade acham que as emissoras de TV
têm exagerado nas novelas. Mas é tolice delegar ao poder público uma vigilância que só pode ser exercida eficazmente pelos pais. Que dispõem,
aliás, de um objeto fácil de manusear, o controle remoto, para mudar
de canal ou, pura e simplesmente,
desligar a TV.
Mas as razões que a Globo tem podem acabar ofuscadas pela excessiva
sede com que a emissora saiu ao ataque, convocando seus atores e autores para uma ofensiva em que vários
deles comparam o episódio atual à
censura da ditadura militar.
Aí, já é fazer melodrama. Para começar, a censura atual é da Justiça,
não de um Poder Executivo todo-poderoso. Para continuar, censura ampla, geral e irrestrita, como nos tempos da ditadura, depende de um contexto político para o qual a Globo
muito contribuiu na época, mas que
não endossa mais.
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