São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2000

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CLÓVIS ROSSI
Censura e melodrama

SÃO PAULO - A Rede Globo de Televisão tem toda a razão de reclamar, com veemência, da decisão do Juizado da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro de impedir a participação de menores de idade na novela "Laços de Família".
É importante observar que a decisão judicial não alcança as crianças que vêem a novela, mas as que dela participam. Já seria terrível se o poder público, em qualquer de seus braços, se dedicasse a determinar o que cada família pode ou não ver.
Intervir no trabalho de crianças só seria tolerável se os juizados tivessem condições de proibir o trabalho de menores de idade em atividades de fato obscenas (para crianças), como canaviais, carvoarias e tantos outros.
É até possível que uma criança seja circunstancialmente corrompida em uma cidade cenográfica. Mas o sentido comum elementar manda dizer que é mais provável que elas estejam mais protegidas nesse ambiente do que nas cidades de verdade.
Sei que crescentes setores da sociedade acham que as emissoras de TV têm exagerado nas novelas. Mas é tolice delegar ao poder público uma vigilância que só pode ser exercida eficazmente pelos pais. Que dispõem, aliás, de um objeto fácil de manusear, o controle remoto, para mudar de canal ou, pura e simplesmente, desligar a TV.
Mas as razões que a Globo tem podem acabar ofuscadas pela excessiva sede com que a emissora saiu ao ataque, convocando seus atores e autores para uma ofensiva em que vários deles comparam o episódio atual à censura da ditadura militar.
Aí, já é fazer melodrama. Para começar, a censura atual é da Justiça, não de um Poder Executivo todo-poderoso. Para continuar, censura ampla, geral e irrestrita, como nos tempos da ditadura, depende de um contexto político para o qual a Globo muito contribuiu na época, mas que não endossa mais.


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