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IGOR GIELOW
Dr. Fantástico e nós
BRASÍLIA - O país assiste a uma
discussão sobre o papel das Forças
Armadas com uma franqueza não
vista desde a redemocratização.
O problema é que estamos no
Brasil. Logo, a chance de o reequipamento militar se transformar em
alguns reajustes salariais e compras
feitas sem viés estratégico é grande.
E toda a preocupação com Hugo
Chávez, que é justificada apesar de
não haver perigos imediatos, poderá se transformar em desculpa para
gastos pouco transparentes e discurso estridente e inócuo da dita
oposição.
Há confusões conceituais. O ministro Jobim, por exemplo, defendeu um equipamento estrategicamente vital, o submarino nuclear.
Só que o faz pregando a defesa de
campos petrolíferos do terrorismo.
Como o ataque por uma pequena
embarcação no Iêmen ao destróier
USS Cole, em 2000, demonstrou, o
perigo terrorista nos mares só pode
ser detido com embarcações mais
leves de superfície, ágeis e bem armadas. Pelo menos pararam de pedir porta-aviões.
A decorrência do debate, e já há
sinais disso, será um tema tabu: a
bomba atômica. É lícito, embora o
politicamente correto vá enterrar
quem o fizer, discutir à luz da realidade do século 21 a necessidade, ou
não, de possuir o único método de
dissuasão realmente efetivo.
Debater não significa defender a
bomba. Se alguém tem saudade da
Guerra Fria, que alugue o DVD de
"Dr. Fantástico" (Stanley Kubrick,
1964). A idiotia da "destruição mutuamente assegurada" é dissecada
nessa comédia em que o mundo
acaba devido a paranóias militares
personificadas no cientista (Peter
Sellers) que dá título ao filme.
A pior coisa que pode ocorrer por
aqui é uma corrida atômica, com
Chávez dividindo conhecimentos
não exatamente pacíficos com iranianos, animando o Brasil a fazer
algo mais com seu programa nuclear -por sinal, militarizado.
Paranóia? Hoje, sim. Hoje.
igielow@folhasp.com.br
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