|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÉRGIO DÁVILA
Todos contra Hillary
"HILLARY CLINTON" aparece fantasiada de noiva, na festa que ela e
"Bill" dão para os outros pré-candidatos democratas à sucessão de
George W. Bush. Conforme os convidados vão chegando, todos elogiam sua fantasia de "bruxa" -inclusive o marido. Até que aparece
alguém de "Barack Obama". Quando tira a máscara, é o próprio senador, que diz que não gosta de esconder quem ele é de verdade.
Foi o quadro de abertura do programa humorístico "Saturday
Night Live" há duas semanas e é
um dos clipes políticos mais vistos
no YouTube ainda hoje. Resume o
espírito da oposição norte-americana atual, refletido nos dois últimos debates democratas: todos
contra a ex-primeira-dama.
Esse espírito dominou o debate
de anteontem, em Las Vegas, o que
levou a pré-candidata a dizer que o
tailleur que virou sua marca registrada era feito de amianto e a citar
o ex-presidente Harry Truman:
"Se você não agüenta o calor, que
saia da cozinha". Pois me sinto muito confortável na cozinha".
Não se deve subestimar a capacidade dos democratas de estragar
tudo na última hora, vide a última
eleição presidencial, aquela em
que, sob acusações falsas de que tinha traído o país no conflito do
Vietnã, o herói de guerra John
Kerry foi batido pelo mesmo Bush
que nunca pisou num front na vida.
Hillary ainda é a pré-candidata
mais bem colocada nas pesquisas
de ambos os partidos, bate o ex-prefeito republicano Rudolph Giuliani quando posta frente a frente e
tem uma máquina arrecadadora
imbatível, já com US$ 100 milhões.
Mas começa a perder força.
A clara vantagem que exibia nos
últimos meses está sendo corroída
tanto por uma definição maior de
quem será seu oponente como pelos ataques mais diretos que passou a sofrer no próprio partido.
Esses são liderados pelo "bom
moço" Obama, seguido pelo sulista
John Edwards. Também há duas
semanas, o senador negro deu entrevista em que sutilmente declarava guerra a sua colega.
O time de Hillary tentou usar a
carta do gênero a seu favor, convocando até Bill Clinton para dizer
que os homens haviam se reunido
para atacar uma única mulher. A
estratégia foi logo abandonada,
pois pegou mal com as eleitoras,
que viram uma indesejada demonstração de fragilidade.
Enquanto isso, o outro lado começa a tapar o nariz e a se unir em
torno do "neoconservador" Giuliani, que até ontem era a favor da
união homossexual e do direito da
mulher de decidir sobre o aborto. O
bolo na cereja foi o apoio recebido
pelo televangelista ultraconservador Pat Robertson.
Não se deve, também, subestimar a capacidade dos republicanos
de não largar o poder.
sdavila@folhasp.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em
Washington.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Salvação de Adriano Próximo Texto: Frases
Índice
|