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CLAUDIA ANTUNES
Fazer nada
SÃO PAULO - O que fazer? Se há
algo em comum entre Bush e Lula é
o fato de ambos rodopiarem em torno dessa pergunta. O primeiro, desde que foi derrotado nas eleições legislativas de novembro e passou a
ser pressionado a encontrar uma
saída para a Guerra do Iraque; o segundo, depois que prometeu, de novo, crescimento que ponha o Brasil
no ritmo de outros "emergentes".
O provável é que ambos não tomem nenhuma medida inovadora,
uma vez que o debate, nos dois países, ocorre dentro de limites que
não rompem tabus doutrinários.
No caso americano, só os iludidos
imaginam que haverá uma retirada
total do Iraque. Deve haver redução
das tropas a médio prazo e reforço
dos assessores militares, numa
"iraquização" do conflito. Os EUA
podem ser expulsos um dia, mas,
até lá, farão o possível para manter
um pé nas bases militares que construíram no país.
O temor de uma carnificina ainda
pior, muito alardeado, não é o fator
de maior peso nesse cenário. Desde
a crise do petróleo nos 1970 e a Revolução Iraniana, assegurar pela
força, se necessário, o acesso direto
às reservas do Golfo Pérsico está
em todo manual que enumere os
interesses vitais dos EUA. Com o
Irã fortalecido, a Arábia Saudita
histérica com os vizinhos xiitas e a
China sedenta de combustíveis, não
se cogita mudar essa norma.
Por aqui, Lula está enredado numa doutrina que o coloca, a olhos
estrangeiros, como um dos melhores da classe entre os dirigentes sul-americanos. Hoje em dia é de bom
tom dar algum alento aos pobres,
mas sem heterodoxias econômicas.
Nesse marco estreito, a discussão
sobre mudanças na economia fica à
mercê de grupos de interesse. O que
poderia surgir como consenso vira,
na verdade, um acerto entre os que
gritam mais alto. O presidente não
parece disposto a modificar esse
processo. Tende a optar por não fazer nada, deixando, como o colega
Bush, que o tempo cuide do risco de
o país ser atropelado por forças incontroláveis.
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