São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

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RUY CASTRO

Política suicida

RIO DE JANEIRO - O desenho já se insinuava desde os anos 90. Se você tivesse uma loja de discos, pequena ou média -daquelas de rua, com clientes fiéis, não importava o sotaque musical da loja-, as dificuldades para trabalhar, mesmo que com lucros modestos, ficaram enormes. O problema não era vender. Era comprar.
Uma gravadora soltava o novo CD de um artista de venda certa, nacional ou estrangeiro. Se o disco custasse R$ 20 ao varejista, este teria de vendê-lo por R$ 30, para pagar os custos do ponto, os impostos, o contador, o empregado, a luz e ainda embolsar algum. O problema é que, por comprar quantidades menores de cada título, esse varejista seria um dos últimos a ser visitado pelo vendedor da gravadora.
Enquanto o disco do dito artista era procurado em vão na loja por seus clientes fiéis -e, quando finalmente aparecia, saía por R$ 30-, outro cliente não tão fiel vinha relatar que fora ao supermercado X ou à loja de departamentos Y, em busca de outra coisa, e deparara com pilhas do tal CD -por R$ 20. Claro, comprara-o. Com isto, o lojista perdia uma venda e, pior, perdia o cliente, que passava a chamá-lo de ladrão para todo mundo.
Essa política suicida, imposta pelas gravadoras, fechou milhares de lojas de discos no Brasil nos últimos 15 anos. Supermercados e grandes magazines trabalham com imensa variedade de produtos, dos quais o disco é apenas um, e nem de longe o mais importante. Mesmo assim, com sua clientela de milhares, podem comprar maciças quantidades de qualquer CD (o que baixa o preço de custo para cerca de R$ 15) e vendê-lo a R$ 20, ainda com lucro. É possível competir?
Este é um dos motivos do fim da loja Modern Sound, aqui no Rio, no próximo dia 31. O outro é a internet. Era talvez a última e melhor loja de discos de seu tamanho no mundo. Mundo este que, sem ela, fica menos suave e mais surdo.


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