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São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A força das águas

Nesta semana, chuvas torrenciais caíram em várias áreas do Brasil, causando desabamentos, interrupção de estradas, enxurradas. O aumento do volume de riachos e rios acarretou alagamentos e correntezas, com a destruição de ruas e construções. Casas foram atingidas pelo deslizamento de terra, soterrando, infelizmente, vítimas em Petrópolis, Belo Horizonte e outros lugares. Eram áreas de muito perigo, agravado pela intensidade das chuvas.
Entre outras cidades, Mariana (MG) foi surpreendida já na noite de 10/1, sexta-feira, por tempestades, com raios e trovões. Em poucos minutos, formaram-se nas ruas enormes concentrações de água que, ao romper muros e paredes, penetravam pelas casas, inundando tudo e deixando toneladas de lama. A chuva continuou a cair por vários dias, aumentando os estragos e a desolação.
Entrou em ação o serviço público, convocando todos os dependentes para auxiliar as famílias mais atingidas. Era urgente retirar a lama das casas, salvar alguns móveis e pertences e forçar o povo a afastar-se das áreas de mais riscos. Quando, pouco a pouco, a limpeza ia sendo realizada, eis que, na madrugada de 16/1, chuvas ainda mais intensas caíram sobre a cidade, alagando de novo as mesmas áreas e destruindo o que tinha restado. Os desabrigados foram levados para escolas e lugares seguros, aguardando poder voltar para suas casas. Muitos foram acolhidos nos lares de amigos. Podemos imaginar o sofrimento do povo que, na sua grande maioria, é pobre. Perderam praticamente tudo: móveis, roupas e alimentos. A correnteza de lama reduziu a escombros centenas de casas nas partes baixas da cidade. Era desolador ver as pessoas tentando salvar algum documento e objetos de estimação.
Houve grande colaboração entre todos. Cada um ajudava no que podia. Graças a Deus, ninguém perdeu a vida por causa das enchentes em Mariana. O alimento é garantido pelo município, que organiza refeições populares e distribuição de cestas. O prejuízo maior é o da destruição de casas.
Chegam à prefeitura roupas, alimentos, móveis e utensílios como doação aos necessitados. O governo do Estado tem se empenhado ao máximo. O programa de emergência atende as questões de alojamento dos desabrigados e recuperação inicial de casas e ruas. Vai ser preciso um ingente esforço de vários meses para garantir outra moradia às famílias desalojadas.
No entanto, o maior desafio para a prefeitura será reorganizar os serviços básicos de desassoreamento dos córregos e riachos, assegurar o escoamento das águas e a consolidação das encostas e barrancos e reconstruir pontes.
É momento de muita provação para milhares de famílias, que necessitam de apoio para recomeçar a própria vida. Os municípios de Mariana, Caratinga, Ponte Nova e outros que passam pela mesma aflição só poderão reparar os danos com auxílio de verbas especiais do Estado e da União. No meio de tanta carência, percebemos, no entanto, gestos de verdadeira solidariedade cristã. Muitos entre os mais pobres vieram trazer a oferta de seu trabalho, de alimentos e pequenas doações para aliviar o sofrimento alheio.
A força das águas causou muitos prejuízos e tristeza, é verdade. Mas temos que agradecer a Deus a força maior do amor e da generosidade do nosso povo, que sabe repartir o pão e ajudar os outros nas horas difíceis.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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