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Direito de optar
Aplicações de dinheiro do FGTS em infra-estrutura deveriam ser optativas, e não obrigatórias como deseja o governo federal
O GOVERNO federal promete anunciar na segunda o tantas vezes
postergado pacote voltado a acelerar o crescimento
econômico. Sabe-se que, entre as
medidas cogitadas, inclui-se a de
carrear recursos dos trabalhadores para financiar projetos de investimento em infra-estrutura
cujo retorno é incerto.
Não se trata de iniciativa de todo inédita. No passado recente,
foi concedida autorização para
que parte do saldo dos trabalhadores em suas contas no Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) fosse aplicada na aquisição de ações da Petrobras e da
Vale do Rio Doce -operação cujo retorno, evidentemente, também era incerto.
Nessas ocasiões, contudo, cada
trabalhador teve liberdade para
escolher entre manter todos os
seus recursos aplicados com a
rentabilidade padrão do fundo
(TR mais 3% ao ano) ou aplicar
parte do seu patrimônio numa
operação de renda variável. Nesta hipótese, o retorno poderia ser
bem maior do que o padrão, mas
haveria risco de obter rentabilidade mais baixa -eventualmente até negativa.
A versão até o momento conhecida da medida provisória
que regulamentará a matéria
não prevê a preservação da liberdade de escolha do trabalhador.
A decisão de aplicar R$ 5 bilhões
do patrimônio do FGTS em infra-estrutura seria do governo e
do Conselho Curador do fundo.
Mas eventuais prejuízos seriam
debitados do patrimônio dos
empregados no setor formal.
Não é o caso de descartar a
conveniência de introduzir modificações na destinação dos recursos do FGTS. Do ponto de vista do trabalhador, o rendimento
propiciado pelo fundo é muito
baixo. O retorno de TR mais 3%
correspondeu a apenas 5% em
2006 -a rentabilidade de uma
aplicação em renda fixa no mesmo período superou 12%.
O déficit de investimentos em
infra-estrutura, por outro lado, é
um problema econômico sério,
que vem se prolongando e agravando. Usar uma pequena parcela dos mais de R$ 180 bilhões do
patrimônio do fundo para ajudar
a desobstruir gargalos de infra-estrutura não é uma idéia descabida. É preciso preservar, claro,
recursos suficientes para o financiamento da habitação e do
saneamento -que são hoje as
únicas atividades para as quais o
fundo está autorizado a emprestar seus recursos.
A maneira mais democrática
de compatibilizar a necessidade
de investir em infra-estrutura e o
desejo de muitos trabalhadores
de ampliar seus rendimentos no
FGTS, contudo, não é forçá-los a
assumir riscos. Um sistema de
aplicação optativa, inspirado nos
casos de sucesso da Petrobras e
da Vale, seria preferível.
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