São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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FERNANDO RODRIGUES

Simulacro de transparência

BRASÍLIA - Os deputados e os senadores ganham uma bolada extra por mês. Além dos salários, embolsam mais R$ 15 mil para gastar praticamente como bem entenderem. Apresentam notas fiscais mantidas em sigilo absoluto.
Tudo ia bem até o deputado do castelo, Edmar Moreira, comunicar o consumo de R$ 140 mil em 2008 com segurança privada -logo ele, cuja fortuna deriva desse setor.
Pressionado, o mundinho político adotou uma variável da máxima de Lampedusa: simulou mudanças para manter tudo como está. A Câmara decidiu e o Senado copiará a seguinte ideia: daqui a 45 dias, passarão a divulgar os valores das notas fiscais e os nomes dos fornecedores. CNPJs e fac-símiles dos recibos? Nem pensar. O simulacro de transparência não chega a tanto.
O prazo de 45 dias é injustificável do ponto de vista gerencial. Se há desejo de divulgar os dados, nada impediria alguns dos 30 mil funcionários do Congresso de fazer o serviço em um ou dois dias.
Trata-se de operação de baixa complexidade -digitar nomes e números. Deputados e senadores discordam. Analfabetos em informática, propagam a noção de que seria tudo complicadíssimo.
Complicado é proteger atos espúrios, como foi a decisão de ontem, de estabelecer o esquecimento oficial de notas fiscais de anos anteriores. Nada do passado será divulgado. Irregularidades cometidas estão perdoadas. Essa autoanistia ainda vem com o bônus de 45 dias de prazo para todos terem tempo de encontrar recibos quentes.
É uma decisão corajosa. Mas deputados e senadores nunca perdem viagem quando apostam na abulia popular. O Carnaval está aí para esfriar os ânimos. Assim, o arquivo morto do Congresso receberá, de uma só vez, as notas fiscais antigas e a capacidade dos políticos de sentirem vergonha por atos tão antirrepublicanos como esse.

frodriguesbsb@uol.com.br


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