São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

À direita de Lula

LONDRES - Reconheça-se no ministro Antonio Palocci uma valiosa qualidade: não perde o bom humor nem no momento mais crítico de sua vida pública.
O ministro e sua política estão sob fogo cerrado de companheiros de partido e de companheiros de governo. Se fosse a oposição a disparar sobre um alto funcionário do governo, nada de mais. Política é assim.
Mas, quando são companheiros de diferentes gêneros que o fazem, a coisa fica muito complicada.
Talvez por isso, Palocci caiu no silêncio, que não rompeu nem mesmo ao chegar a Londres, viagem que lhe renderia um motivo adicional para irritação: o vôo da Varig em que veio atrasou umas três horas, tudo por culpa da "operação padrão" da Polícia Federal.
Em vez de chegar à residência da Embaixada do Brasil em Londres às 12h50, conforme o programa oficial, desceu do Mercedes Benz 240, placa KY04VDM, pouco antes das 16h (13 h em Brasília).
Educado, pediu desculpas aos jornalistas por não querer falar, alegando que precisava informar-se sobre o noticiário dos jornais brasileiros e responder a um chamado de Rodrigo Rato, vice-presidente do governo espanhol e um dos favoritos para substituir Horst Köhler na direção do Fundo Monetário Internacional.
Conversaram sobre as propostas do presidente Lula para modificar os mecanismos de socorro do FMI.
Toda essa movimentação não impediu Palocci de ironizar a si próprio. Contou que, um dia, Lula lhe perguntou sobre Gordon Brown, ministro britânico da Economia.
"Ao contrário do ministro da Fazenda do Brasil, que está à direita do presidente, o Gordon Brown está à esquerda do primeiro-ministro", respondeu Palocci.
Bom humor não resolve problema algum, a não ser eventual estresse do ministro. Mas acaba sendo também uma espécie de panfleto político: Palocci não se importa nem um pouco de estar à direita de alguém, coisa que, no Brasil, nem o mais empedernido direitista assume.


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