|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Público e privado
BRASÍLIA - A grande discussão na praça é até onde deve ir a investigação de uma CPI ou da imprensa
quando ocorre uma imbricação entre
a vida pública e a privada de uma
determinada pessoa. O caso estrepitoso do momento é o do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci.
Em resumo, dá-se o seguinte:
1) o ministro nega ter freqüentado
uma notória casa de lobby, usada em
Brasília por uma tropa de amigos ou
ex-amigos dele, todos encrencados
com malfeitos a granel. Inclusive de
tráfico de influência na área de bingos. Eis a razão de a CPI dos Bingos
olhar para o assunto;
2) um motorista afirma que o ministro mentiu. Palocci teria ido até a
casa de lobby mais de uma vez;
3) Nildo, o ex-caseiro da casa, confirma a mesma história. Palocci teria
freqüentado várias vezes o local. O
rapaz agora está enrolado com depósitos curiosos que apareceram em sua
conta bancária.
É impossível dizer quem está falando a verdade. Nota-se pelos depoimentos que assuntos particulares
eram também tratados naquela casa.
O governo começa a gritar dizendo
que temas da vida privada não devem ser tratados em CPI. Aí está o
ponto. Não é bem assim.
Pode até ser um flagelo para um
homem público se algum dia uma
parte de sua vida privada venha a
aparecer numa investigação de corrupção. Mas esse é o ônus de quem
decide ocupar um cargo no governo.
Palocci é esse homem.
Mesmo que agora o caseiro Nildo
possa vir a ser desqualificado por alguma razão, o que foi dito deve ser
investigado. Se o ministro da Fazenda mentiu dentro do Congresso a respeito de suas relações com gente que
freqüentava um latrina ocasionalmente usada para lobby, paciência,
terá de responder por essa atitude.
Menos do que isso é achar que a lassidão sem fim da Justiça deve ser a regra, e não a exceção, no Brasil.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A sublimação Próximo Texto: Rio de Janeiro - Antônio Gois: Pouco por nada Índice
|