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ELIANE CANTANHÊDE
Sem fronteiras
WASHINGTON - A principal acusação contra a Venezuela e o Equador, por parte tanto dos EUA como
da Colômbia, é que os dois países
seriam coniventes, ou até mais do
que isso, ao permitirem a presença
de guerrilheiros em suas fronteiras.
Isso seria uma espécie de "refúgio",
haveria "cumplicidade".
Pois bem. Ontem, o secretário-assistente de Estado para a região,
Thomas Shannon, me disse algo de
muito bom senso: se ninguém consegue controlar suas fronteiras,
aliás, como os próprios EUA, como
exigir que o Equador consiga?
"É dificílimo controlar fronteiras
enormes como as da região. Nós
mesmos, nos EUA, não temos todos
esses problemas nas nossas fronteiras com o México, apesar de todos
os esforços?", disse ele, numa brecha na reunião de chanceleres da
OEA (Organização dos Estados
Americanos), em Washington.
Se Shannon que é Shannon reconhece isso, como crucificar o Equador porque guerrilheiros atravessam suas fronteiras e se comportam em solo equatoriano como se
estivessem em casa? Seria mais
produtivo ter, em vez de acusações
mútuas, soluções conjuntas.
As Farc são uma questão interna
da Colômbia, porque nasceram,
cresceram e se multiplicaram dentro do país. Mas elas ganharam dimensão regional e precisam de uma
solução discutida regionalmente.
Dizimar todos os guerrilheiros é a
não-solução, algo que qualquer organização internacional, país e cidadão tem a obrigação de rechaçar
prontamente. Ou melhor: previamente. Ninguém quer um Iraque
na América do Sul.
O chanceler Celso Amorim foi de
uma ousadia rara em diplomatas ao
admitir publicamente (à Folha)
que o presidente Álvaro Uribe
-inegavelmente forte, diante das
Farc cada vez mais fracas- deveria
pensar numa "solução negociada,
até numa anistia negociada". Uma
declaração poderosa, dessas que
muitos pensam, mas ninguém fala.
elianec@uol.com.br
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