São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

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Operação simpatia

Sem perspectiva de muitos ganhos concretos, viagem do presidente Barack Obama ao Brasil aponta para maior aproximação dos dois países

Palco de manifestações históricas pela democracia, e até hoje local propício a quem queira avaliar o pulso e a temperatura da política brasileira, a Cinelândia deverá receber, no domingo, a estrela política um tanto declinante, mas ainda carismática, de Barack Obama.
Não é fato corriqueiro, pensando na longa e dúbia história de fascínio e resistência do Brasil face à influência americana, que um presidente dos Estados Unidos venha pronunciar, em pleno centro do Rio de Janeiro, um discurso dirigido diretamente à população.
Em Berlim, durante a sua campanha, e no Cairo, em 2009, Obama fez discursos considerados históricos. Essas manifestações traziam diferença palpável frente a seu antecessor, George W. Bush, tanto no que toca à cooperação com organismos internacionais quanto nos temas candentes dos direitos humanos e das relações americanas com o mundo muçulmano. O discurso principal da viagem à América Latina, contudo, deve realizar-se no Chile.
Não há tanto a esperar, nem mesmo do ponto de vista retórico, da passagem de Obama em terras brasileiras. Parece improvável que o presidente reserve a ocasião para defender explicitamente o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, como fez com relação à Índia em 2010.
Isso representaria um notável passo na expectativa, promovida pelo próprio Obama, de uma gestão mais equilibrada dos impasses internacionais. O fato é que a postulação não tem recebido, por parte dos EUA, mais que frases protocolares e pouco encorajadoras.
A visita de Obama possui, do ponto de vista político e diplomático, mais o aspecto de uma aproximação necessária do que o de uma passagem a patamares inéditos de parceria.
Contudo, diante dos frequentes deslizes diplomáticos da administração anterior no tema dos direitos humanos, que diversas declarações da sucessora Dilma Rousseff vêm corrigindo em boa hora, e da importância crescente do Brasil no cenário internacional, a visita de Obama torna-se propícia para superar o relativo descompasso que, não apenas no plano comercial, verificou-se entre os dois países até recentemente.
Discursos, cortesias, futebol e samba talvez componham, na verdade, parte mais substancial do que se pensa na agenda da visita. A operação simpatia não deve ser menosprezada: tem relevância clara no estágio atual das relações entre Brasil e EUA, e Barack Obama, em que pese uma imagem menos triunfante do que a de seus primeiros dias, possui talento suficiente para realizar a contento essa missão de relações públicas.


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