São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

50 anos sem Einstein

ROGERIO ROSENFELD


Seu exemplo inspira novas gerações a perseguirem a tarefa de expandir a fronteira do conhecimento científico
Em 18 de abril de 1955 morria, aos 76 anos, em Princeton, EUA, o físico Albert Einstein. No dia seguinte, um cartum no jornal "Washington Post" mostrava a Terra, vista do espaço, com um enorme cartaz: "Einstein viveu aqui". Isso reflete de maneira comovente a sua importância monumental para o acervo cultural da humanidade.
Conforme sua vontade, seu corpo foi cremado e suas cinzas espalhadas. Curiosamente, seu cérebro foi surrupiado pelo legista que fez a autópsia, que o manteve na surdina por 40 anos para estudos neurológicos inconclusivos.
Einstein despontou no cenário em 1905, aos 26 anos, quando ele, então desconhecido funcionário de um escritório de patentes em Berna, na Suíça, publicou quatro artigos que tiveram um impacto colossal em diferentes áreas da física. Em seu "annus mirabilis", Einstein mostrou que massa é equivalente a energia, luz é feita de partículas e moléculas são uma realidade. Com a simples hipótese de que a velocidade da luz é sempre a mesma para qualquer observador, derrubou o conceito de espaço e tempo absolutos. Criou uma nova mecânica, suplantando a obra de Isaac Newton, reinante por mais de dois séculos. Por esse motivo, 2005 foi decretado o Ano Mundial da Física, com a realização de vários eventos celebrando o centenário desse ano milagroso.
A carreira de Einstein decolou a partir daí, culminando com o desenvolvimento de sua teoria da gravidade, em 1916, em que o espaço é encurvado pela presença de matéria. Essa teoria, denominada Teoria da Relatividade Geral, foi confirmada no eclipse solar de 1919, com dados tomados por duas expedições britânicas, uma delas a Sobral, no Ceará. A relatividade geral é a base que usamos hoje para estudar a evolução de todo o nosso universo.
Apesar de ser um dos pioneiros da física quântica, responsável pela introdução dos quanta de luz, Einstein nunca aceitou sua interpretação probabilística. Era um fervoroso defensor do determinismo. Foi nesse contexto que disse que "Deus não joga dados". O físico quântico Niels Bohr, com quem travou grandes debates sobre o assunto, retrucou: "Einstein, pare de dizer a Deus o que Ele deve ou não fazer".
Einstein visitou o Brasil por oito dias em 1925, proferindo palestras e indo a pontos turísticos no Rio de Janeiro. Foi recebido pelo então presidente Arthur Bernardes. Ficou fascinado com a flora tropical, mas achou o clima quente e úmido pouco apropriado ao trabalho.
Professor em Berlim desde 1914, Einstein fugiu do regime nazista em 1933, aceitando um convite para trabalhar no Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Com receio de que a Alemanha pudesse desenvolver uma arma nuclear, foi convencido pelo físico húngaro Leo Szilard a enviar uma carta ao então presidente norte-americano, Roosevelt, alertando sobre o perigo. Assim começou o famoso Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica, do qual Einstein não participou.
Pacifista convicto, após a guerra foi presidente do Comitê Emergencial de Cientistas Atômicos, organização antinuclear que defendia um governo mundial. Sionista, participou da criação da Universidade Hebraica em Jerusalém, para a qual doou todos os seus documentos, mas recusou um convite do primeiro-ministro Ben Gurion para ser presidente de Israel. Einstein tornou-se um verdadeiro ícone. Aonde quer que fosse, sua mera presença atraía multidões. Até em desenhos animados havia personagens inspirados nele: cientistas caricatos com um forte sotaque alemão. Foi eleito a personalidade do século 20 pela revista "Time".
Nas suas últimas décadas, dedicou-se intensamente à busca de uma teoria que pudesse explicar os fenômenos da gravitação e da luz de maneira unificada. Seu trabalho foi infrutífero, mas atualmente estamos no caminho de encontrar essa teoria unificada. A chamada teoria de supercordas é provavelmente o passo mais próximo de realizar o sonho de Einstein.
Esse é o legado de Einstein: da existência de moléculas ao conhecimento de nosso universo, do micro ao macrocosmos, suas teorias permeiam toda a física. Exemplos de aplicações práticas de suas idéias, de câmeras digitais a lasers, mercado financeiro e até o sistema GPS, abundam na sociedade. Mais importante, sua procura por beleza e simplicidade nas leis da natureza norteia novos desenvolvimentos. Seu exemplo inspira novas gerações a perseguirem a tarefa de expandir a fronteira do conhecimento científico.
Rogerio Rosenfeld, 40, físico, doutor pela Universidade de Chicago, é professor livre-docente e vice-diretor do do Instituto de Física Teórica da Unesp (rosenfel@ift.unesp.br).

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