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TENDÊNCIAS/DEBATES
Gravatazeiros
Há uma ligação forte entre desenvolvimentistas e políticos populistas. O discurso de ambos é imediatista
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ROBERTO LUIS TROSTER
Os gravatazeiros , pássaros
ameaçados de extinção, não existem no resto do mundo e só sobrevivem
em algumas regiões do interior da Bahia
e de Minas Gerais. A degradação da caatinga e da mata Atlântica fez com que o
número dessas aves se reduzisse drasticamente. Sua perpetuação é de interesse
de muitos e é motivo de celebração.
Os desenvolvimentistas estão em extinção, não existem no resto do mundo
e só sobrevivem em algumas regiões do
Brasil e de alguns países vizinhos. O baixo crescimento das economias que seguiram seus preceitos e o bom desempenho dos países que perseveraram em
políticas responsáveis fizeram com que
o número desses economistas se reduzisse drasticamente. Sua perpetuação é
de nenhum interesse e é motivo de
preocupação.
Há uma ligação forte entre os gravatazeiros e o gravatá, espécie de bromélia
terrestre. Há uma ligação forte entre os
desenvolvimentistas e os políticos populistas. O discurso de ambos é imediatista. As propostas são reduções rápidas
de juros, altas artificiais do câmbio e elevações aceleradas de gastos públicos,
que impulsionam a economia a curto
prazo e cativam os incautos. A médio e
longo prazo, o resultado é mais concentração de renda, taxas de crescimento
baixas e juros reais elevados.
Seu receituário é o seguinte tripé: aumento do déficit fiscal, metas de inflação flexíveis e administração imediatista do câmbio.
Uma elevação de gastos públicos tem
um impacto positivo na economia ao
gerar uma alta da demanda. O problema é que seu financiamento é feito ou
mediante mais impostos, ou por meio
de um crescimento da dívida pública,
aumentando os juros para toda a economia. Resumindo, um crescimento
agora ocasionando uma retração maior
no futuro.
O segundo apoio do tripé é a lassitude
com as metas de inflação. Uma elevação
da inflação estimula a atividade econômica tirando renda dos que recebem
preços -leia-se "assalariados"- e
transferindo aos que fixam preços
-leia-se "empresários". Concentra a
renda e desestimula investimento para
aumentar os lucros, pois se ganha mais
com a remarcação de preços. A evidência empírica é contundente, não há um
exemplo sequer de crescimento sustentado com inflação.
O terceiro pé é uma elevação artificial
do câmbio, com a compra de divisas, incentivando exportações pelo efeito preço. A barreira é o custo fiscal alto, pois se
gastam recursos vultosos para adquirir
reservas internacionais, além do desestímulo a investimentos em produtividade. Funciona enquanto o custo fiscal
puder ser financiado e o efeito preço
não exigir mais desvalorizações. Uma
política que não se perpetua.
O tripé de políticas desenvolvimentistas foi aplicado no Brasil e em seus vizinhos nas últimas décadas do século passado. O resultado foi desastroso: bolhas
de crescimento seguidas de crises. A
conseqüência é que a renda per capita
média latino-americana, que correspondia a 35% da dos países da OCDE há
25 anos, atualmente é de apenas 20% e
permanece concentrada. Lastimável!
Os desenvolvimentistas debatem com
fantasmas, contrapõem suas idéias às
de monetaristas, ortodoxos e outras
correntes de pensamento ultrapassadas, sem defensores.
Em contraposição, o crescimento sustentado tem como condição necessária
o tripé oposto ao dos desenvolvimentistas: responsabilidade fiscal, comprometimento com metas de inflação e câmbio flexível. As outras condições são as
que propiciam a geração de riquezas,
em vez de sua apropriação. Estão baseadas em três pilares: pessoas, empresas e
infra-estrutura.
O pilar mais importante para o crescimento sustentado são as pessoas. A riqueza de uma nação é feita por gente
que, quanto mais capacitada estiver,
mais poderá contribuir e usufruir. A
educação é a prioridade em qualquer
política de desenvolvimento consistente. O segundo pilar são as empresas. Há
obstáculos contra a produção que têm
que ser superados: simplificar e diminuir a tributação, racionalizar a burocracia, flexibilizar a contratação de
mão-de-obra etc. Quanto mais fácil for
produzir riquezas, mais rico será o país.
A infra-estrutura é o terceiro pilar. Para crescer, é necessária uma infra-estrutura adequada em todas as suas dimensões: física (estradas, telefonia etc.), social (protegendo os desfavorecidos),
institucional (execução de contratos,
definição clara de direitos etc.) e de segurança (pessoal e legal).
O cenário atual é apropriado para
aplicar políticas duradouras. A inflação
está em baixa, as taxas de juros estão em
queda, as exportações estão altas, as
contas públicas controladas e a economia está blindada. É um quadro adequado para que a economia brasileira
deslanche de forma consistente.
Os gravatazeiros estão sendo preservados, pelo esforço de ambientalistas,
no interior da Bahia. O crescimento sustentável depende do esforço de toda a
sociedade brasileira exigindo uma política econômica responsável. Não há esperança nos desenvolvimentistas.
Roberto Luis Troster, doutor em economia pela USP, professor titular do departamento de economia da PUC-SP, é o economista-chefe da
Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
@ - troster@febraban.org.br
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