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FERNANDO RODRIGUES
Afinal, para que serve o Senado?
BRASÍLIA - A iminente absolvição de Renan Calheiros explicita
uma vez mais a crise de identidade
do Senado. Não é uma Casa revisora. Não pune seus membros. Guarda em segredo suas mazelas. Afinal,
para que serve mesmo o Senado?
A Câmara pode até ser um antro
com 300 picaretas, como disse Lula
um dia. Mas seria injusto acusar os
deputados de leniência absoluta.
Embora assem pizzas, dezenas já
foram ejetados da vida pública.
No Senado, só um foi cassado até
hoje. Como se senadores fossem seres mais puros e decentes do que
seus colegas deputados.
Não é necessário vir a Brasília para verificar como Senado e Câmara
têm códigos diferentes de prestação de contas ao país. Basta entrar
na internet. Sobre os deputados é
possível saber até quantas voltas
dariam na Terra com o combustível
recebido. Dos senadores só há biografias anódinas.
O Renangate é marcado por uma
sucessão de escárnios. Primeiro, o
caso caiu nas mãos de um político
semi-aposentado, desprezado em
seu partido e ávido por encontrar
uma sinecura para os filhos desempregados: o corregedor (sic) Romeu
Tuma (DEM-SP). Não se dignou a
dar um telefonema para açougues
de Alagoas indagando se ali eram
vendidas picanhas, filés, maminhas
e cupins renanzistas.
Pós-Tuma veio o senador da floresta e sem voto, Sibá Machado
(PT-AC). É o suplente-presidente
do Conselho de Ética. Lançou-se
com avidez à tarefa de absolver Renan. É ajudado por Epitácio Cafeteira (PTB-AM), relator do processo e ícone do velho Brasil. A dupla
não quer julgar. Quer salvar.
Nessa toada, os senadores cavam
a própria cova. Nada contra. Exceto
quando levam junto uma instituição da República. A pergunta "para
que serve o Senado?" não deveria
pairar no ar como agora. Se assim o
é, algo de erradíssimo se passa com
a democracia em vigor no país.
frodriguesbsb@uol.com.br
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