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Editoriais
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Provisórias em demasia
Foi louvável, e até mesmo surpreendente, o relativo consenso
alcançado por congressistas da
oposição e da situação em apoio à
proposta do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) que busca impor limites ao abuso de medidas provisórias por parte do Executivo.
Mal foi esboçada, a perspectiva
de avanço já se vê sob pressão do
Planalto, que obviamente exige o
recuo dos senadores do PT. E isso
depois de a proposta já ter sido
aprovada, por acerto entre os diversos partidos, na Comissão de
Constituição e Justiça da Casa.
O acordo redigido pelo senador
mineiro propõe correções a desvios que há décadas permitem ao
Executivo manietar o Congresso e
usurpar funções legislativas.
Entre as alterações figuram a
obrigatoriedade de restringir cada
MP a um só assunto, ou a temas
correlatos, princípio frequentemente desrespeitado pelo governo, e a adoção de prazos separados de análise pela Câmara e pelo
Senado, para que a primeira não
abrevie o exame pelo segundo.
O avanço mais significativo, no
entanto, viria da implementação
de uma comissão mista de 24 deputados e senadores. Sua função
seria a de analisar se as medidas
provisórias satisfazem os critérios
de relevância e urgência exigidos
na Constituição Federal para justificar o recurso a tais medidas.
Em caso negativo, a vigência
imediata da MP -o que lhe confere hoje o caráter de um decreto-lei- seria suspensa, e a matéria
seria apreciada pelo Congresso
como um projeto de lei a mais.
É incompreensível que o Legislativo brasileiro ainda não disponha de tal instância fiscalizadora,
cabendo apenas ao arbítrio do governo de turno a decisão sobre o
trâmite mais apropriado para suas
propostas de nova legislação.
Por temer o legítimo freio (ou
contrapeso) a seu poder implícito
na providência, o governo busca
barrar a iniciativa. Uma solução
alternativa, surgida no Senado, é
a de conferir às Comissões de
Constituição e Justiça da Câmara e
daquela Casa a função de filtro
que seria exercida pela comissão
ora proposta por Aécio Neves.
O Executivo recusa-se a aceitar
qualquer crivo dessa espécie. Está
entre as missões da nova articuladora política do governo Dilma
Rousseff, a ministra Ideli Salvatti,
impedir a mudança de rito das
MPs, mesmo que ao preço da distribuição de cargos e verbas, até
aqui relativamente contida.
A investida do Planalto representará um novo desfalque no
equilíbrio entre os Poderes.
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