|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O pescoço de Lula
JOSIAS DE SOUZA
São Paulo - Lula dizia, em tempos
outros, que, para chegar à Presidência, Brizola seria capaz de "pisar no
pescoço da própria mãe". No da mãe,
talvez não. Mas, no de Lula, Brizola já
está pisando.
Brizola escala o pescoço do companheiro de chapa gostosamente. Se o PT
deixar, logo estará com os sapatos sobre a cabeça de Lula. Ou, por outra:
não demora e estará cavalgando um
"sapo barbudo" domesticado.
Em termos eleitorais, Brizola é uma
espécie de sub-Enéas. Na última campanha, arrancou das urnas menos votos do que o candidato do Prona. Pois
hoje, montado na jugular de Lula,
Brizola volta a atrair os holofotes. Como seu poder de influência roça o
chão, canibaliza o prestígio alheio.
Soltam-se fogos no Palácio do Planalto. Os auxiliares de FHC buscavam
formas de associar a imagem de Lula
ao conceito de despreparo. A movimentação de um Brizola individualista veio a calhar.
Nada poderia servir mais aos interesses do governo do que a sensação de
que Lula é dominado pelo vice. PT e
PDT não esperam pelas cascas de banana que o inimigo planeja pôr no caminho da oposição. Os partidos se enrolam sozinhos.
Lula subiu nas pesquisas graças à
impressão, hoje generalizada, de que o
governo despreza o ser humano. Mas,
assim como subiu, pode descer. Basta
que o eleitor se convença de que a
prioridade de sua gestão não seria o
emprego, a saúde ou a educação. A
prioridade seria, conforme alardeia
Brizola, a retomada de estatais privatizadas.
Só Brizola poderia imaginar que a
venda da Cia. Vale do Rio Doce será
anulada por um "simples despacho".
Só Brizola poderia achar que a Telebrás, se vendida, será reestatizada sem
uma guerra judicial, para a qual o
prazo de um mandato é escasso.
Ou o PT arranca Brizola de cima do
pescoço de Lula ou o candidato não
terá fôlego para chegar ao final da
campanha.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|