São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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O pescoço de Lula

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Lula dizia, em tempos outros, que, para chegar à Presidência, Brizola seria capaz de "pisar no pescoço da própria mãe". No da mãe, talvez não. Mas, no de Lula, Brizola já está pisando.
Brizola escala o pescoço do companheiro de chapa gostosamente. Se o PT deixar, logo estará com os sapatos sobre a cabeça de Lula. Ou, por outra: não demora e estará cavalgando um "sapo barbudo" domesticado.
Em termos eleitorais, Brizola é uma espécie de sub-Enéas. Na última campanha, arrancou das urnas menos votos do que o candidato do Prona. Pois hoje, montado na jugular de Lula, Brizola volta a atrair os holofotes. Como seu poder de influência roça o chão, canibaliza o prestígio alheio.
Soltam-se fogos no Palácio do Planalto. Os auxiliares de FHC buscavam formas de associar a imagem de Lula ao conceito de despreparo. A movimentação de um Brizola individualista veio a calhar.
Nada poderia servir mais aos interesses do governo do que a sensação de que Lula é dominado pelo vice. PT e PDT não esperam pelas cascas de banana que o inimigo planeja pôr no caminho da oposição. Os partidos se enrolam sozinhos.
Lula subiu nas pesquisas graças à impressão, hoje generalizada, de que o governo despreza o ser humano. Mas, assim como subiu, pode descer. Basta que o eleitor se convença de que a prioridade de sua gestão não seria o emprego, a saúde ou a educação. A prioridade seria, conforme alardeia Brizola, a retomada de estatais privatizadas.
Só Brizola poderia imaginar que a venda da Cia. Vale do Rio Doce será anulada por um "simples despacho". Só Brizola poderia achar que a Telebrás, se vendida, será reestatizada sem uma guerra judicial, para a qual o prazo de um mandato é escasso.
Ou o PT arranca Brizola de cima do pescoço de Lula ou o candidato não terá fôlego para chegar ao final da campanha.



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