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NELSON MOTTA
Uma dupla do barulho
RIO DE JANEIRO - Usando apenas seu carisma e sua história, sua
dialética e sua fabulosa capacidade
de convencimento, José Dirceu
conseguiu formar e manter a base
aliada do governo Lula no Congresso sem recorrer a mesadas, jabás,
cargos e empregos. Só no papo, na
arte da articulação política, fazendo
a ponte entre os interesses -sempre legítimos, claro- do empresariado produtivo, do Estado solidário e do partido do povo. Realidade
ou ficção?
Sem fazer qualquer juízo de valor, que grande personagem é esse
"Zé Dirceu"! Quase tão bom quanto
"Lula, de-operário-a-presidente"
-o sonho de qualquer ficcionista.
Foram feitos um para o outro, são
opostos e se completam. Na polêmica se teria sido demitido por Lula
ou se teria pedido demissão, Dirceu
diz que sua posição era resistir. Botar os movimentos sociais e a militância nas ruas e reagir ao plano da
elite conservadora, ao complô da
direita para desestabilizar o governo popular.
Não foi o que concluíram a Polícia Federal, a CPI e o procurador-geral da República, mas é só um detalhe. O que vale é a intenção, é imaginar Zé Dirceu, Genoino, Silvinho
e Delúbio, em cima de um tanque,
desfraldando bandeiras brasileiras
e do PT, gritando palavras de ordem
e marchando sobre Brasília à frente
de uma coluna de blindados, seguidos por multidões de excluídos.
Mas Lula não topou. Dirceu é o
guerreiro romântico, o galã intelectual revolucionário. Lula é feioso,
conservador e careta, nunca foi de
esquerda, tem horror a intelectual e
a revolução, é da paz e da negociação, sindicalista treinado em conseguir o melhor para seus colegas.
Assim como Dirceu, Lula acha
que, se o deixarem falar, convence
qualquer um de qualquer coisa. Até
que os dois não têm nada a ver com
tudo o que aconteceu.
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