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A taxa e suas armadilhas
COMO PRINCÍPIO, é correta a
proposta do ministro da
Saúde, José Gomes Temporão, de criar uma taxa sobre cigarros e bebidas alcoólicas para
constituir um fundo de combate
às doenças provocadas por esses
produtos. É razoável que as despesas em que o poder público incorre por conta do tabaco e do álcool sejam custeadas mais pelos
usuários dessas substâncias do
que pelo conjunto da população.
Na prática, a implementação
de uma medida dessas tende a
ser bem mais complexa e pode
trazer algumas armadilhas.
Problemas potenciais ocorrem
em vários planos. Se a carga tributária ficar elevada demais, dá-se um grande estímulo ao contrabando e à produção clandestina. Em termos fiscais, a experiência brasileira com verbas
vinculadas não é das mais animadoras. Como o prova a CPMF
-o imposto do cheque que iria só
para a saúde-, é uma questão de
tempo até que o governo desvirtue a utilização original.
Essas e outras dificuldades recomendam cautela e atenção,
mas não o abandono da idéia de
criar o fundo. Vale observar que
o aumento da taxação atua por
duas vias distintas. Além de colocar mais recursos à disposição do
Estado, ele também torna bebidas e cigarros mais caros para o
usuário, o que por si só já é um fator de inibição do consumo.
Assim, mesmo que os piores
prognósticos a respeito do futuro do fundo se materializem, restariam efeitos benéficos. Álcool e
tabaco são relativamente baratos no Brasil. Enquanto um europeu paga em média R$ 17 por
um maço de cigarros, um brasileiro fuma os mesmos 20 cigarros por R$ 3. A literatura médica
mostra que há uma relação direta entre aumento de preço desses produtos e redução de consumo e, por conseguinte, das doenças relacionadas.
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