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CESAR MAIA
Dois votos ao Senado?
A eleição para o Senado dá
ao eleitor, de oito em oito
anos, o direito de votar duas
vezes. É a única eleição no
Brasil em que isso acontece.
No Chile, usa-se o sistema
de primeira e segunda maiorias. As eleições para senador
e deputado seguem esta regra
em cada região eleitoral. A fórmula de primeira e segunda
maiorias contribui para a convergência de partidos afins e
para o equilíbrio da representação parlamentar. No Brasil,
a regra dos dois votos produz
distorções que podem afetar a
dinâmica e o próprio resultado das eleições.
Naturalmente, cada candidato ao Senado faz sua campanha pedindo votos para si. E
evita conflitar com seus adversários, pois precisa do segundo voto deles. Com isso, o eleitor toma sua decisão direta para o primeiro voto e residualmente para o segundo. São
duas as consequências disso.
A primeira é que a taxa de fixação do voto em um candidato é muito maior no primeiro
voto do que no segundo. Ou
seja: a probabilidade de o eleitor mudar seu segundo voto é
muito maior do que mudar o
primeiro.
A segunda consequência é
o paradoxo do segundo voto
como contraditório do primeiro. Na medida em que, na eleição, os candidatos na TV não
estabelecem suas diferenças,
para evitar perder o segundo
voto, o eleitor médio decide
seu segundo voto sem preocupação de coerência na chapa
que escolhe.
Na medida em que, numa
situação dessa, a tendência do
eleitor médio é escolher quem
tem chance, os candidatos
mais competitivos se veem na
situação em que o segundo voto de seu eleitor pode derrotá-lo, ampliando a votação de
seu adversário. A eleição se
despolitiza, e o resultado pode
ser o contrário do que a decisão de primeiro voto indicaria.
Como os TREs não separam
o primeiro do segundo voto na
apuração, uma análise precisa
se torna impossível. Mas se
pode fazer uma análise dedutiva a partir das últimas pesquisas, na semana da eleição e
do resultado final.
Alguns institutos de pesquisa não têm informado, neste
ano, o primeiro e o segundo
votos separados, o que impede a análise dedutiva. Analisando as eleições de 1994 e de
2002 a partir dos institutos que
separaram o primeiro e o segundo votos, focalizando os
últimos dias e comparando
com o resultado das eleições,
a proporção de eleitores que
não confirmou seu segundo
voto indicado nas pesquisas
estava em torno de 30%.
Com isso, na urna, um candidato do primeiro escalão
apontado nas pesquisas pode
crescer na mudança do segundo voto uns dez pontos, mudando a ordem de chegada do
primeiro escalão.
Nesse sentido, fazer campanha pelo segundo voto é decisão de alto risco.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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