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CARLOS HEITOR CONY
O gato e a missão
RIO DE JANEIRO - Como se não
bastassem os problemas antigos e
os recentes, eis que consigo mais
um: minha filha viajou e deixou-me
um gato por missão. Isso mesmo:
missão.
Ela tomou a louvável iniciativa de
deixar o gato com uma amiga, possuidora de outro gato. Fui ao aeroporto levar o meu rebento e, na volta, já encontrei o recado: o gato não
poderia ficar onde estava por causa
do gato pré-existente. Àquela hora,
eu não podia consultar minha filha
a respeito do gato dela. Ela fora taxativa ao embarcar: casos omissos
seriam resolvidos por mim.
A transitória depositária do gato
da minha filha decidiu levá-lo para
uma clínica veterinária na Tijuca,
que custei a localizar. Era uma velha casa caindo aos pedaços.
À minha entrada, todos os animais se assanharam, cães, micos,
gatos e até mesmo um bicho estranho que me parecia uma gentil mistura de veado com cabrito.
O gato de minha filha lá estava,
deprimido: a realidade da clínica, os
cães e os micos, aquele animal misto de veado e cabrito. E o pior ainda
não lhe acontecera: a minha chegada. O responsável pela clínica retirou-o a custo de sua pequena jaula e
esforçou-se por colocá-lo na cesta
que o levara até ali.
Depois de muito parlamentar
(sem alusão aos nossos deputados),
consegui um protocolo de coexistência pacifica com o gato: ele ficou
quieto e eu deixei de tentar suborná-lo com afagos e frases carinhosas. Trouxe-o para o carro e foi no
carro que ele passou a sua primeira
noite longe de sua dona e de sua
casa.
Pela manhã, encontrei-o mais
calmo. A forração do carro ficou em
frangalhos, mas, honra seja feita, o
estrago ficou nisso. E assim enfrentei a segunda-feira com a tarefa suplementar de encontrar uma casa e
um dono provisório para ele. E, se
possível, também para mim.
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