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CARLOS HEITOR CONY
Amor virtual
RIO DE JANEIRO - Recém chegado
ao universo virtual, tenho sentimentos contraditórios a respeito da
nova linguagem que, aparentemente, e até aqui, está unindo homens e mulheres, velhos e crianças, doentes e sadios numa humanidade especifica, que, por não ter
existido antes, agora está sendo
testada.
Ouve-se falar em abusos de sexo
e pornografia, de pedofilia e outras
taras que encontraram um espaço
surpreendente na telinha. Telinha
que, por bem ou por mal, está substituindo o livro, o jornal e a própria
TV, uma vez que pode condensar
tudo isso num pequeno e cada vez
menor retângulo iluminado.
Assim como não me atrai a pizza
que a gente encomenda, paga com
cartão, mas recebe fria, o sexo virtual não me deslumbra suficientemente para me dedicar a ele. Prefiro
o sexo em sua tradicional versão
off-line.
Contudo, sou obrigado a reconhecer a eficiência da comunicação
eletrônica, notadamente o e-mail,
naquilo que antigamente os caretas
chamavam de paquera e hoje tem
outros nomes.
Pois o que acontece comigo -e
deve acontecer com todo mundo-
é a assombrosa capacidade do relacionamento virtual, que, entre mortos e feridos, sempre dá para pescar
uma alma solitária, ou mesmo -levando ao limite- aquelas que se intitulam "coração em chamas", colocando-se adredes para receber
o jato salvador que as inunda de
salvação.
Um homem terminal, não por
gosto, mas por contingência histórica, já não teria esperança e muito
menos direito de manter certo tipo
de diálogo com a geração que anda
pelos vinte e tantos anos. No início,
estranhei este tipo de diálogo/envolvimento, recusei alguns, pedindo que tomassem juízo.
Que eu próprio tivesse juízo. Mas
começo a me habituar. E, um pouco
envergonhado, admito que estou gostando.
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