São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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RISCOS DA GUERRA

A perspectiva , cada vez mais presente, de que os EUA entrem em conflito armado com o Iraque já revela seu potencial perturbador sobre uma conjuntura econômica internacional delicada. A impressão de que a guerra se aproxima tem levado a cotação do dólar a cair ante o iene e o euro. Ontem, o dólar chegou ao nível mais baixo, em relação ao euro, desde janeiro de 2000.
As economias da Europa e do Japão continuam próximas da estagnação, enquanto a dos EUA exibe expansão moderada. A Europa e Japão contam com as exportações para os EUA como fator de dinamismo. Por isso as autoridades econômicas dessas regiões desejam interromper a valorização de suas moedas, que encarece seus produtos no mercado norte-americano. As autoridades japonesas já ameaçam intervir pesadamente no mercado para sustentar o dólar. Mas a iminência da guerra está limitando a eficácia dessas reações.
À primeira vista, chega a parecer estranho que a perspectiva de um conflito armado no Iraque enfraqueça o dólar ante o euro e o iene. Isso porque a curto prazo o eventual conflito tenderia a prejudicar claramente o desempenho econômico da Europa e Japão. Essas regiões dependem muito de importações de petróleo, que quase certamente se veriam encarecidas. Já a economia norte-americana, muito menos dependente do petróleo importado, poderia até ser estimulada pelo esforço militar.
A tendência dos investidores internacionais de se desfazer de dólares parece ligada, portanto, não às tendências de curto prazo das principais economias sob o impacto de eventual guerra no Iraque, mas sim à perspectiva de agravamento dos desequilíbrios da economia dos EUA: o déficit externo e o déficit publico.
A aceleração dos gastos militares dos EUA, realizados em grande medida no exterior, tenderia a agravar ambos os déficits. Isso seria fator de enfraquecimento do dólar -tendência que o mercado parece antecipar.
O risco maior é de que a queda do dólar se torne abrupta, pois isso criaria grave instabilidade nas finanças globais. Menos mal se a queda recente do dólar servir de alerta ao governo Bush acerca dos riscos econômicos de suas inclinações belicistas.


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