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"BOLHA" ELEITORAL
Um país com o potencial e as
carências do Brasil chegar ao
fim do ano com um crescimento
econômico de 2,5%, que só supera,
na América Latina e no Caribe, o desempenho do Haiti, da Jamaica e da
Guiana, é o que se pode chamar de
um retumbante fiasco. É exatamente
isso o que deverá ocorrer, segundo
dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) divulgados na quinta-feira.
O pífio resultado brasileiro -que,
infelizmente, se tornou a regra nos
últimos anos- ajudou a puxar a média da região para baixo. Com os
4,3% estimados para este ano, a expansão do PIB da América Latina e
do Caribe será inferior ao crescimento médio dos países emergentes,
projetado em 5,6%.
Diante desses números, entendem-se os motivos que levaram o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em um de seus estapafúrdios discursos, a rechaçar comparações entre a
economia brasileira e a de outros países. É realmente humilhante para
um governo que prometia investir na
produção e anunciava mudanças de
vulto equiparar o país às economias
supracitadas.
Enquanto o Brasil se arrasta, em
meio a desculpas esfarrapadas da
equipe econômica, alguns países vizinhos crescem com invejável vigor.
Além do salto da Venezuela (9%),
vinculado à alta do petróleo, a Argentina crescerá 8,6% e o Uruguai, o
Chile e o Peru devem registrar expansão em torno de 6%.
Para provável decepção da equipe
econômica, a Cepal não endossou a
tese defendida em Brasília de que a
causa do baixo crescimento foi a crise política. Como a maioria dos analistas e empresários, atribuiu a responsabilidade à política monetária.
Para o Banco Central, no entanto,
isso não parece ter tanta importância, já que na reunião realizada na última semana manteve o "gradualismo" dos cortes de uma taxa de juros
que, em termos reais (descontada a
inflação), é a mais alta do planeta.
Esse patamar inaceitável dos juros
tem acarretado distorções na gestão
da dívida pública, na administração
da taxa de câmbio e na atividade produtiva de uma maneira geral.
Em meio às duras e justificadas críticas, algumas delas formuladas por
ministros e membros do próprio governo, assiste-se agora a uma movimentação para tentar reverter o quadro. Ao que se noticia, na avaliação
do Planalto os cortes homeopáticos
da taxa Selic não devem bastar para
reaquecer a economia no tempo e na
intensidade convenientes para seus
planos eleitorais. Será preciso mais.
Eis, então, que de uma hora para
outra aumentar investimentos públicos e cortar impostos tornou-se urgente -e uma elevação do salário
mínimo acima da prevista já foi alardeada. Combalido pela crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe
que além de seu carisma pessoal e do
assistencialismo do Bolsa-Família
precisa contar com bons resultados
econômicos para tentar evitar um
fracasso no pleito de 2006.
O risco é que tenhamos, como vem
ocorrendo nos últimos anos, apenas
mais um "soluço" ou uma "bolha"
de crescimento -dentro dessa dinâmica que tem sido chamada pelos
economistas, com propriedade, de
"vôo de galinha".
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