São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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"BOLHA" ELEITORAL

Um país com o potencial e as carências do Brasil chegar ao fim do ano com um crescimento econômico de 2,5%, que só supera, na América Latina e no Caribe, o desempenho do Haiti, da Jamaica e da Guiana, é o que se pode chamar de um retumbante fiasco. É exatamente isso o que deverá ocorrer, segundo dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) divulgados na quinta-feira.
O pífio resultado brasileiro -que, infelizmente, se tornou a regra nos últimos anos- ajudou a puxar a média da região para baixo. Com os 4,3% estimados para este ano, a expansão do PIB da América Latina e do Caribe será inferior ao crescimento médio dos países emergentes, projetado em 5,6%.
Diante desses números, entendem-se os motivos que levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um de seus estapafúrdios discursos, a rechaçar comparações entre a economia brasileira e a de outros países. É realmente humilhante para um governo que prometia investir na produção e anunciava mudanças de vulto equiparar o país às economias supracitadas.
Enquanto o Brasil se arrasta, em meio a desculpas esfarrapadas da equipe econômica, alguns países vizinhos crescem com invejável vigor. Além do salto da Venezuela (9%), vinculado à alta do petróleo, a Argentina crescerá 8,6% e o Uruguai, o Chile e o Peru devem registrar expansão em torno de 6%.
Para provável decepção da equipe econômica, a Cepal não endossou a tese defendida em Brasília de que a causa do baixo crescimento foi a crise política. Como a maioria dos analistas e empresários, atribuiu a responsabilidade à política monetária.
Para o Banco Central, no entanto, isso não parece ter tanta importância, já que na reunião realizada na última semana manteve o "gradualismo" dos cortes de uma taxa de juros que, em termos reais (descontada a inflação), é a mais alta do planeta. Esse patamar inaceitável dos juros tem acarretado distorções na gestão da dívida pública, na administração da taxa de câmbio e na atividade produtiva de uma maneira geral.
Em meio às duras e justificadas críticas, algumas delas formuladas por ministros e membros do próprio governo, assiste-se agora a uma movimentação para tentar reverter o quadro. Ao que se noticia, na avaliação do Planalto os cortes homeopáticos da taxa Selic não devem bastar para reaquecer a economia no tempo e na intensidade convenientes para seus planos eleitorais. Será preciso mais.
Eis, então, que de uma hora para outra aumentar investimentos públicos e cortar impostos tornou-se urgente -e uma elevação do salário mínimo acima da prevista já foi alardeada. Combalido pela crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe que além de seu carisma pessoal e do assistencialismo do Bolsa-Família precisa contar com bons resultados econômicos para tentar evitar um fracasso no pleito de 2006.
O risco é que tenhamos, como vem ocorrendo nos últimos anos, apenas mais um "soluço" ou uma "bolha" de crescimento -dentro dessa dinâmica que tem sido chamada pelos economistas, com propriedade, de "vôo de galinha".


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