São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

O homem de Estado

HONG KONG - Celso Amorim, o chanceler da República, tornou-se na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio um "media star", para usar a língua-franca desse tipo de reuniões. Tanto que o "South China Morning Post", o jornal em inglês mais importante da China, dedica a contracapa a ele e ao ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, tratado como "porretes da reforma agrícola".
Sobre o brasileiro, diz, por exemplo, que "esse diplomata de carreira de 63 anos é a personificação da dignidade e da substância".
Tudo bem que a atenção que Amorim passou a receber da mídia é decorrência do peso do G20, o clube dos países desenvolvidos liderado por Índia e Brasil e que é, ele sim, "o porrete da reforma agrícola". Tudo bem também que o G20 só se tornou possível porque o Brasil é uma notável potência agrícola que ganhou músculos nos últimos muitos anos com diferentes governos.
Mas não é só a mídia. No comando da OMC, ouvi mais de uma vez o chanceler brasileiro ser chamado de "elder statesman", que tanto pode ser "homem de Estado mais velho" como "mais graduado".
E é no "homem de Estado" que eu queria chegar. Suspeito que o que mais falta ao Brasil seja exatamente esse tipo de gente, profissionais de altíssima qualificação que entram no serviço público para prestar serviço público (sei que deveria ser norma, mas é exceção) em uma carreira extremamente exigente. Entrar no Itamaraty é uma pedreira, permanecer exige novos concursos de acesso.
Há exceções, como é óbvio, mas, em geral, só ficam no governo porque são funcionários do Estado, não do governo Lula, FHC, Itamar, Sarney. Amorim, aliás, teria sido chanceler mesmo que José Serra ganhasse a eleição.
Está sendo prova ambulante de que é possível ser funcionário público e ser competente e competitivo, inclusive no plano internacional
Pena que seja exceção.

crossi@uol.com.br


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