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CLÓVIS ROSSI
O homem de Estado
HONG KONG - Celso Amorim, o
chanceler da República, tornou-se na
Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio um
"media star", para usar a língua-franca desse tipo de reuniões. Tanto
que o "South China Morning Post", o
jornal em inglês mais importante da
China, dedica a contracapa a ele e ao
ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, tratado como "porretes da
reforma agrícola".
Sobre o brasileiro, diz, por exemplo,
que "esse diplomata de carreira de 63
anos é a personificação da dignidade
e da substância".
Tudo bem que a atenção que Amorim passou a receber da mídia é decorrência do peso do G20, o clube dos
países desenvolvidos liderado por Índia e Brasil e que é, ele sim, "o porrete
da reforma agrícola". Tudo bem
também que o G20 só se tornou possível porque o Brasil é uma notável potência agrícola que ganhou músculos
nos últimos muitos anos com diferentes governos.
Mas não é só a mídia. No comando
da OMC, ouvi mais de uma vez o
chanceler brasileiro ser chamado de
"elder statesman", que tanto pode ser
"homem de Estado mais velho" como
"mais graduado".
E é no "homem de Estado" que eu
queria chegar. Suspeito que o que
mais falta ao Brasil seja exatamente
esse tipo de gente, profissionais de altíssima qualificação que entram no
serviço público para prestar serviço
público (sei que deveria ser norma,
mas é exceção) em uma carreira extremamente exigente. Entrar no Itamaraty é uma pedreira, permanecer
exige novos concursos de acesso.
Há exceções, como é óbvio, mas, em
geral, só ficam no governo porque são
funcionários do Estado, não do governo Lula, FHC, Itamar, Sarney.
Amorim, aliás, teria sido chanceler
mesmo que José Serra ganhasse a
eleição.
Está sendo prova ambulante de que
é possível ser funcionário público e
ser competente e competitivo, inclusive no plano internacional
Pena que seja exceção.
crossi@uol.com.br
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